Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

#45 O CARRO: Relação no divã

Os automóveis moldaram a vida da civilização. Agora, novidades tecnológicas e mudanças de hábito estão transformando esse velho elo entre homem e máquina

Por Ernesto Neves Atualizado em 4 jun 2024, 17h06 - Publicado em 21 set 2018, 07h00
Relação no divã
EX-OBJETO DE DESEJO - Vitrine da Porsche: cada vez mais jovens chegam aos 18 e não tiram carteira de motorista (Thomas Kienzle/AFP)

Da década de 60 ao início do século XXI, nenhum item de consumo foi tão decisivo para o ser humano quanto o carro. Símbolo de status, ele era um potente resumo da masculinidade e da prosperidade, proporcionando conforto e satisfação a cada membro da família. Jovens viam a entrega da primeira chave como o ritual definitivo de transição para a vida adulta. O automóvel foi adotado como política de Estado e motor de desenvolvimento — isso se deu em todo o mundo, sobretudo no Brasil. Cidades inteiras foram planejadas a partir dele, com destaque especial para Brasília. Duradouro, o casamento entre brasileiros e seus automóveis parecia indissolúvel. Hoje, porém, exibe sinais de esgotamento. No ano passado, a frota nacional cresceu apenas 1%, número considerado baixo (entre 2001 e 2012, período de crédito fácil, ela dobrou, passando de 24 milhões para 50 milhões).

É claro que a crise econômica é um componente das vendas fracas. Mas não é suficiente para explicar o que aconteceu. O glamour em torno dos automóveis ficou opaco. Ter um carro tornou-se caro demais, com as taxas, os seguros e a manutenção, e chato demais. Além do metrô, uma combinação vem tomando seu lugar em razão da praticidade e do apelo ecológico. De um lado, o surgimento dos aplicativos de transporte, como o Uber, o mais famoso deles, já com 20 milhões de usuários no Brasil. Outro fator é a produção de bicicletas, que deverá atingir 727 000 unidades neste ano, 9% a mais que em 2017. O setor estima que a expansão será puxada, sobretudo, pelas classes A e B.

A crise econômica é só um componente na queda das vendas. Dirigir tornou-se caro, pouco prático, antiecológico e sem glamour

 

 

O fenômeno comportamental é ainda mais consolidado nas economias avançadas. Muito à frente da América Latina no planejamento urbano, cidades europeias adotaram o conceito de transporte multimodal como norma — aquele em que, em vez de concentração num meio específico, há combinação de uma ou mais opções, o que racionaliza o deslocamento diário. A onda é tão intensa que varre até os Estados Unidos, pátria mundial do automóvel como pilar da vida moderna. Conduzido pela Universidade de Michigan, um levantamento mostra que, em 1983, 80% dos americanos que chegavam aos 18 anos tinham carteira de motorista. Em 2014, não passavam de 60%. “A redução foi contínua. Ou seja, ela aconteceu tanto em períodos de crescimento econômico quanto de recessão”, diz Michael Sivak, professor da instituição e autor do estudo.

Os carros, evidentemente, não vão sumir dos cruzamentos. Novas tecnologias desencadearam uma corrida entre investidores. A principal delas é o veículo autônomo, que se locomove sem a necessidade de um condutor. O Google até criou uma empresa específica para tratar do tema, a Waymo, que, antes mesmo de lançar qualquer modelo comercial, já é avaliada em 175 bilhões de dólares. A Uber, por sua vez, planeja concretizar outra ideia saída dos contos de ficção científica. Até 2023, a companhia quer lançar em Dallas e Los Angeles, nos Estados Unidos, o “UberAir”, como chama seu táxi voador. Com tanta novidade, é provável que as próximas gerações ainda andem de “carro”, mas desconheçam a antiga satisfação de possuí-lo — e nem tenham ideia do que significou no passado segurar suas chaves pela primeira vez.

Publicado em VEJA de 26 de setembro de 2018, edição nº 2601

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.