O decreto de estado de emergência climática garante ao local uma série de medidas e recursos extras que ajudam a população a passar por condições extremas. Até agora, o governo federal não deu sinal de que pretende tomar essa iniciativa, por maiores que sejam os alertas dos especialistas para a situação. “As queimadas criminosas somadas aos eventos severos de secas, chuvas e ondas de calor transformaram as mudanças climáticas em emergências”, diz o cientista ambiental Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP.
As mudanças climáticas já deram as caras. Levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas de Espaciais (Inpe) aponta que o Brasil estendeu os dias de secas. De 1961 a 1990, o período consecutivo de baixa precipitação era de 80 a 85 dias. Na década seguinte, a temporada subiu para 100 dias no Nordeste e Centro-Oeste do país. Nas demais regiões também observa-se aumento do número de dias secos, nos últimos 64 anos. A nova condição afeta a produção agrícola e a favorece a ocorrência de queimadas.
O Brasil registrou mais de 156 mil focos de incêndios, o maior número registrado nos últimos 14 anos. De acordo com o MetSul Meteorologia, as temperaturas podem superar 40ºC principalmente no Centro-Oeste e Sudeste. Em Campo Grande, a Polícia Militar Ambiental encontrou cinquenta bovinos mortos à margem do Rio Taquari, entre Coxim e Rio Verde de Mato Grosso. Os resto do rebanho, com quase mil cabeças, tinham animais tão desnutridos que mal conseguiam se mexer. O motivo: falta de água e pastagem.
Na Rodovia Transamazônica, entidades ambientais apontam a necessidade de animais da região receberem suplementação de água. A discussão que avançou para audiências públicas com a Secretaria do Meio Ambiente do estado ganharam apoio do Ministério Público. Mas enquanto o embate segue, os animais continuam sedentos e correndo risco de vida. É justamente para agilizar situações como essa que o decreto de emergência climática funciona. A medida ainda ajuda a proteger a população, que corre risco com o avanço do fogo em direção às áreas urbanizadas e das fumaças que afetam à saúde. Especialistas apontam para a necessidade de medidas que diminuam o dióxido de carbono nas cidades, o que poderia ocorrer com a expansão do rodízio de automóveis, por exemplo. A meta deveria ser mitigar os impactos e proteger a integridade das pessoas em todo território nacional. Então a pergunta permanece: por que o governo não decreta o estado de emergência climática, no lugar de anunciar medidas localizadas e pontuais.