1 – HARRY’S HOUSE, de Harry Styles
(Sony; nas plataformas de streaming)
Aos 28 anos, o cantor inglês galvanizou as atenções em 2022 e se firmou como uma das principais estrelas da música — como os brasileiros puderam comprovar nos cinco shows lotados que fez há pouco em São Paulo, Rio e Curitiba. Em seu terceiro álbum, Harry’s House, lançado em março, Styles deixou no passado as banalidades de seu antigo grupo adolescente, One Direction, para mergulhar em canções de apelo popular e com deliciosas referências ao que de melhor foi feito no funk, folk e rock dos anos 1970 e 1980. Não por acaso, a versão em vinil do álbum bateu o recorde de vendas em sua primeira semana nos Estados Unidos. Dono de uma sexualidade fluida, Styles também influenciou toda uma nova geração de jovens que replicam seu jeito de se vestir. Para além da música, ele investiu no cinema ao estrelar os filmes Meu Policial (Amazon Prime Video) e Não Se Preocupe, Querida (HBO Max). Como ator, porém, se provou um ótimo cantor. Nem precisa mais que isso.
2 – RENAISSANCE, de Beyoncé
(Sony; nas plataformas de streaming)
Numa virada inesperada, Beyoncé voltou às raízes — que bom. Nos últimos seis anos, a cantora se dedicou à produção de álbuns grandiosos e conceituais — manifestos que em nada lembravam o passado pop da ex-Destiny’s Child. Em Renaissance, as noitadas eletrônicas que fizeram sucesso nos anos 1970 e 1990 dominam. No single Break My Soul, ela busca inspiração em Show Me Love, de Robin S., hit que levou muitos brasileiros a comprar a coletânea farofa Summer Eletrohits. Mas é nos primórdios da discoteca, nos anos 1970, que Beyoncé buscou a marca mais evidente da sua guinada para as pistas de dança: a faixa Summer Renaissance sampleia o clássico I Feel Love, de Donna Summer. Beyoncé foi ao passado para fazer de 2022 um irresistível convite à diversão.
3 – THE TIPPING POINT, de Tears For Fears
(Universal; nas plataformas de streaming)
Por vinte anos, divergências criativas separaram os britânicos Roland Orzabal e Curt Smith e colocaram seu Tears For Fears, uma das mais relevantes bandas de synth-pop da história, em estado de hibernação. Mas a dupla finalmente superou suas rusgas em 2022. Para além da afinidade musical, a razão para a retomada da amizade, abalada por brigas financeiras, foi a morte de Caroline, esposa de Orzabal. Após a tragédia, ele percebeu que seu parceiro de longa data seria um porto seguro para enfrentar o luto. No novo trabalho, eles provaram que o tempo não afetou em nada a criatividade do Tears For Fears. As letras continuam falando sobre questões existenciais, e a finitude da vida é um tema que surge na bela faixa-título, escrita logo após a morte de Caroline.
Publicado em VEJA de 28 de dezembro de 2022, edição nº 2821