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Chance perdida: ‘choque liberal’ de Bolsonaro e Guedes ficou na promessa

A agenda do governo se revelou muito mais eleitoral do que reformista

Por Larissa Quintino Atualizado em 4 jun 2024, 10h56 - Publicado em 23 dez 2022, 06h00

As promessas de “choque liberal” da eleição de Jair Bolsonaro, quatro anos atrás, com o Ministério da Economia nas mãos de um economista tão defensor da iniciativa privada quanto Paulo Guedes, naufragaram em 2022. Pelo caminho percorrido desde o início de 2019 sobrou uma longa lista de oportunidades perdidas. Excetuando as mudanças na Previdência, bem avançadas ainda no governo de Michel Temer, as grandes reformas estruturantes não andaram, poucas privatizações aconteceram, os juros altos voltaram e o Brasil está longe de decolar, ao contrário do que o ministro gosta de dizer. No último ano de governo, Guedes chegou a mencionar por diversas vezes que conseguiria aprovar a reforma tributária, mas estava claro que a agenda do governo era muito mais eleitoral do que reformista. Já o projeto de modernização administrativa ficou esquecido, para não desagradar a servidores públicos.

Em contrapartida, projetos para driblar a lei do teto de gastos e criar benefícios para setores específicos vicejaram. Guedes perdeu força no governo para aliados do Centrão e a propalada guinada liberal deu lugar às concessões oportunistas da campanha de reeleição de Bolsonaro. Para permanecer no jogo e no cargo, Guedes cedeu muito e adiou para um possível segundo mandato parte de suas convicções. Os efeitos econômicos da pandemia não ajudaram. Em vez da responsabilidade fiscal, vieram “licenças para gastar”, focadas em alavancar a popularidade do presidente. O governo acumulou 795 bilhões de reais em furos no teto de gastos, sendo 233,4 bilhões de reais, 30% do total, entre 2021 e 2022. O governo liberal termina sem ter muito o que mostrar. “Guedes abraçou o populismo eleitoral, o que ficou evidente este ano. Ele entrega um país do ponto de vista institucional fragilizado, depois de ter recebido um país arrumado. Os números, como os de arrecadação, enganam, o país não tem como fechar as contas”, avalia a economista Elena Landau, responsável pelas privatizações no período de Fernando Henrique Cardoso. É de se lamentar que um projeto tão ambicioso e promissor tenha naufragado ao sabor de conveniências imediatistas.

Publicado em VEJA de 28 de dezembro de 2022, edição nº 2821

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