Com o início do reinado de Charles III, que assumiu o trono do Reino Unido após a morte de sua mãe, Elizabeth II, a dedicação do então príncipe à causa ambiental entrou na lista de tópicos a serem observados com relação ao futuro comportamento do monarca.
Desde a década de 70, Charles se posiciona sobre questões ambientais ativamente e publicamente. Em abril deste ano, ele assinou um artigo sobre o assunto para a revista Newsweek com o título “nossas crianças estão nos julgando”, uma referência à mudança do clima.
Agora, como rei, sua postura terá que ser diferente. Comentaristas que acompanham a trajetória do rei entendem que, enquanto príncipe, ele tinha mais liberdade para se expressar da forma como achava melhor. No novo cargo, ele precisará falar em nome dos interesses do Reino Unido e não de acordo com as suas convicções pessoais.
Na década de 70, aos 21 anos (como comparação, a ativista sueca Greta Thunberg tem 19 anos atualmente), Charles fez seu primeiro discurso público sobre o assunto: “Enfrentamos neste momento os terríveis efeitos da poluição em todas as suas formas cancerígenas. Há a crescente ameaça de poluição por óleo no mar, que quase destrói as praias e certamente destrói dezenas de milhares de aves marinhas. Há poluição química lançada nos rios por fábricas e fábricas de produtos químicos, que entope os rios com substâncias tóxicas e aumenta a sujeira nos mares. Há poluição do ar por fumaça e gases liberados por fábricas e gases bombeados por carros e aviões sem fim”.
Fora dos discursos, Charles é conhecido como defensor da agricultura orgânica e sustentável. Muito antes de a prática se tornar uma corrente defendida em diferentes meios, o herdeiro de Elizabeth implementou na década de 80 um sistema totalmente orgânico em uma de suas propriedades particulares.
“Existem pequenas propriedades em todo o mundo que poderiam se unir em uma cooperativa global comprometida com a produção de alimentos com base em altos padrões ambientais… Com a habilidade de empreendedores éticos e a determinação dos agricultores de fazer acontecer, eu gostaria de pensar que a prática pode proporcionar um futuro muito real e esperançoso”, disse ele em 2021.
Em seu artigo deste ano para a Newsweek, ao fazer uma referência à Guerra do Vietnã, Charles III recuperou uma frase do presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy, que dizia que os problemas daquele tempo haviam sido causados pelo homem, então eles poderiam ser resolvidos pelo homem.
“Esse chamado inspirador para a ação permanece presciente hoje, mas em um contexto diferente e em um conflito diferente – nossa batalha contra as mudanças climáticas para criar um planeta mais limpo, seguro e saudável para as gerações futuras. Mais uma vez, o mundo está no limite, e precisamos da urgência mobilizadora de uma base bélica se quisermos vencer”, escreveu Charles III.
Ao mesmo tempo em que a preservação ambiental é uma causa que o acompanhou ao longo da vida, a atual primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, que substituiu Boris Johnson, não é considerada uma apoiadora da agenda climática. Além disso, há críticas ao próprio rei. Um discurso feito em 2010 na Universidade de Oxford marcou negativamente a sua reputação.
Na época, ele disse que o crescimento populacional na África e em outras regiões em desenvolvimento era um desafio “monumental” para o planeta. Como os países africanos representam a menor fatia de emissões de gases de efeito estufa, a fala foi interpretada como preconceituosa.