As geleiras da Antártica estão perdendo gelo em uma velocidade maior do que se imaginava, de acordo com novos estudos sobre a região. Pesquisas recentes mostraram, a partir de perspectivas diferentes, como o continente austral está ameaçado e pode impactar o restante do planeta.
Uma das principais preocupações com o aquecimento global é o aumento do nível do mar, que pode fazer com que nações e cidades inteiras desapareçam. Por isso, se o derretimento do gelo austral for maior do que o imaginado, outras estimativas a partir deste dado podem estar defasadas.
De acordo com uma análise de imagens de satélite feita pela NASA, a agência espacial norte-americana, a estimativa de perda de plataformas de gelo é o dobro do que se imaginava.
O estudo, publicado na revista científica Nature, mapeou como o desprendimento de icebergs – a quebra do gelo de uma frente de geleira – mudou a costa da Antártica nos últimos 25 anos. A partir desse objetivo, pesquisadores descobriram que a borda do manto de gelo tem gerado icebergs em uma velocidade maior do que a capacidade que o gelo tem de ser substituído.
Essa descoberta fez dobrar as estimativas anteriores de perda de gelo das plataformas flutuantes da Antártica desde 1997, de 6 trilhões para 12 trilhões de toneladas. Ao mesmo tempo, a tendência fez com que o gelo antártico fluísse mais rapidamente para o oceano, acelerando a taxa de aumento global do nível do mar.
Outro estudo, publicado na Earth System Science Data, mostrou como o afinamento do gelo da Antártica à medida que a água do oceano derrete se espalhou das bordas externas do continente para o interior, quase dobrando nas partes ocidentais da camada de gelo na década passada.
De acordo com o autor principal do estudo sobre o desprendimento de icebergs, Chad Greene, pesquisador do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, “a Antártica está desmoronando pelas bordas. Quando as plataformas de gelo diminuem e enfraquecem, as enormes geleiras do continente tendem a acelerar e aumentar a taxa de aumento global do nível do mar”.
Além disso, um modelo científico desenvolvido em parceria com o Instituto de Tecnologia da Califórnia, a Caltech, mostrou como seria o efeito de uma estreita corrente oceânica ao longo da costa antártica ao prender a água quente do oceano na base do gelo, fazendo com que ela aqueça e derreta ainda mais.
Segundo o professor de engenharia e ciência ambiental da Caltech, Andy Thompson, se o mecanismo estudado no laboratório estiver ativo no mundo real, as taxas de derretimento das plataformas de gelo podem ser de 20% a 40% maiores do que as previsões nos modelos climáticos globais, que normalmente não podem simular essas fortes correntes perto da costa da Antártida.
“Há aspectos do sistema climático que ainda estamos descobrindo”, disse Thompson. “À medida que progredimos em nossa capacidade de modelar interações entre o oceano, as plataformas de gelo e a atmosfera, podemos fazer previsões mais precisas e com melhores restrições à incerteza. Talvez precisemos revisar algumas das previsões com relação ao aumento do nível do mar nas próximas décadas ou séculos”, disse.