O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina. Ao mesmo tempo, as cadeias de fornecimento de gado na produção pecuária são responsáveis por 14,5% das emissões globais de gases de efeito estufa. Na América Latina, o setor responde por até um terço das emissões totais.
Um novo estudo realizado pela Universidade do Colorado Boulder e pela Climate Policy Initiative, da PUC-Rio, e publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences analisou os resultados de um ensaio clínico randomizado que estudou se os serviços de extensão agrícola podem ajudar a restaurar pastagens de gado no Brasil.
De acordo com os pesquisadores, assistência personalizada e treinamento educacional apoiaram os pecuaristas com aumento de produção sustentável e o processo foi rentável. Dessa forma, oferecer apoio pode ajudar a manter carbono no solo, melhorar os meios de subsistência e mitigar a mudança do clima.
Segundo a coautora do estudo e economista agrícola sênior do Banco Mundial, Barbara Farinelli, essa “é uma peça importante do quebra-cabeça para alcançar as metas climáticas”. “O que está por trás desse sucesso é que os agricultores se tornam o agente transformador das metas climáticas”, completou.
O programa ABC Cerrado, financiado pelo Banco Mundial por meio de uma doação do Programa de Investimento Florestal (FIP) e implementado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), tem o objetivo de ajudar os agricultores a ter acesso às informações e habilidades específicas para adotar mudanças sustentáveis na produção de gado. Desde 2012, o programa já capacitou 7.800 agricultores.
A nova pesquisa elaborou um estudo controlado e randomizado. 1.369 produtores do Cerrado foram recrutados. Destes, 706 pecuaristas participaram de um curso de 56 horas em uma das quatro práticas promovidas pelo programa, como restauração de pastagens, pastejo rotacionado ou plantio direto.
Entre os resultados, os pesquisadores chegaram à conclusão de que o impacto líquido do programa nas emissões de gases de efeito estufa foi equivalente à redução de 1,19 milhão de toneladas de dióxido de carbono emitido na atmosfera.
Os fazendeiros que receberam ajuda individual aumentaram sua produtividade em um curto período de tempo. Em apenas dois anos, eles aumentaram suas receitas em 39%. No processo de adoção de tecnologias mais sustentáveis, os pesquisadores documentaram que muitos agricultores também mudaram diferentes aspectos de suas operações e adotaram melhores práticas de manejo.
Para o principal autor do artigo e chefe de Avaliação de Políticas, Agricultura Sustentável e Infraestrutura, na Iniciativa de Política Climática/PUC-Rio, Arthur Bragança, “neste cenário em particular, não é que a principal restrição para melhorar a operação da fazenda fosse dinheiro, era realmente informação”.