Como a desertificação pode ameaçar o Brasil
De acordo com o IPCC, 94% das terras secas do nordeste brasileiro estão suscetíveis ao fenômeno, de alcance global
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 55 milhões de pessoas no mundo são afetadas por eventos de seca todos os anos. Para as próximas décadas, estimativas mostram que mais de 75% da população mundial está vulnerável ao fenômeno da desertificação, processo de degradação e de perda de capacidade produtiva dos solos em regiões áridas e semiáridas.
Em um discurso para o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, realizado em 17 de junho, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que “o bem-estar de centenas de milhões de pessoas está comprometido pelo aumento de tempestades de areia, incêndios florestais, quebras de produção agrícola, deslocamentos e conflitos”.
A desertificação no Brasil também se tornou objeto de estudos. De acordo com uma análise feita pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), 12,85% do semiárido brasileiro enfrenta o processo de desertificação. Segundo a instituição, Alagoas tem 32,8% de áreas em desertificação, o que colocou o estado no topo da lista quando comparado às outras regiões monitoradas.
O coordenador do Lapis e professor do Instituto de Ciências Atmosféricas (Icat), Humberto Barbosa, explicou que “o fenômeno ocorre no agreste e no sertão, sendo que a área mais afetada é a região central de Alagoas. Esse processo se deve ao histórico de ocupação dos solos dessas áreas, com atividades econômicas que acarretaram maior nível de degradação”.
Segundo dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), 94% das terras secas do nordeste brasileiro estão suscetíveis à desertificação. Estima-se que até 50% da área está sendo degradada devido a frequentes secas prolongadas e desmatamento de florestas para agricultura. Esta mudança no uso da terra ameaça a extinção de cerca de 28 espécies nativas.
Além das ameaças à biodiversidade, as pessoas que vivem nas regiões que estão cada vez mais secas serão forçadas a migrar, caso a tendência continue no mesmo ritmo. Sem acesso a água potável e sem terras produtivas para a agricultura, populações inteiras precisarão encontrar outros locais onde tenham condições de viver.
De acordo com a ONU, desde 2000 o número e a duração das secas aumentaram 29%. Até 2050, as secas podem afetar mais de 75% da população mundial. Um número cada vez maior de pessoas viverá em áreas com escassez extrema de água, incluindo uma em cada quatro crianças até 2040. Entre 1900 e 2019, as secas impactaram 2,7 bilhões de pessoas no mundo e causaram 11,7 milhões de mortes.