Após a reunião de líderes do G7, composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, na Alemanha na última semana de junho, o comunicado oficial do grupo falou sobre os compromissos ambientais no setor de energia. Apesar de não ter surpreendido quem acompanha as discussões da área, os países mais industrializados do mundo oficializaram a flexibilização de novos investimentos em gás natural, que é um combustível fóssil, o que frustrou expectativas com relação a avanços para reduzir emissões de gases de efeito estufa.
Em meio à guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que evidenciou a dependência energética dos países europeus em relação à Rússia, os líderes declararam que: “neste contexto e com o objetivo de acelerar a redução progressiva da nossa dependência da energia russa, salientamos o importante papel que o aumento das entregas de gás natual liquefeito pode desempenhar, e reconhecemos que o investimento neste setor é necessário em resposta à crise atual”.
O comunicado segue com ressalvas: “nestas circunstâncias excepcionais, o investimento público no setor de gás pode ser apropriado como uma resposta temporária, sujeito a circunstâncias nacionais claramente definidas, e se implementado de maneira consistente com nossos objetivos climáticos e sem criar efeitos de aprisionamento, por exemplo, garantindo que os projetos sejam integrados às estratégias nacionais para o desenvolvimento de hidrogênio de baixo carbono e renovável”.
O cuidado redobrado com a linguagem é um reflexo da pressão internacional para que os investimentos em combustíveis fósseis sejam zerados, principalmente após a realização da COP26 em Glasgow, no Reino Unido, a principal conferência da ONU sobre mudança do clima.
De acordo com a gerente de Política Global para Clima e Energia do WWF-Brasil, Fernanda Carvalho, o G7 abriu a brecha para o gás como combustível de transição. Apesar das salvaguardas com relação às circunstâncias e os cuidados que devem ser tomados, Carvalho acredita que uma oportunidade foi perdida para dar um salto em direção às fontes de energia renováveis.
“A energia renovável poderia ter um papel maior na transição. A medida emergencial poderia ter sido diferente, com maior investimento em renováveis, mas não é de todo uma surpresa que isso tenha acontecido nesse contexto de busca por segurança energética e a urgência por novas fontes”, disse.
Os combustíveis fósseis são a maior fonte de emissão e essa medida atrasa a transição para as energias renováveis. O contexto é difícil, mas o G7 teria as condições de focar no salto para os meios renováveis ao invés da sobrevida dos combustíveis fósseis, analisou Carvalho.
Para o diretor da 350.org na América Latina, Ilan Zugman, o G7 deveria acelarar os seus compromissos climáticos, e não o contrário, a exemplo do que sinaliza o novo comunicado. “Havia expectativa de que nesse encontro o G7 fosse anunciar uma data clara de eliminação do carvão e o grupo fez o contrário. Os líderes abriram mais brechas para investimentos em combustíveis fósseis, em um momento em que a crise climática avança com eventos extremos, inclusive nos países da Europa e Estados Unidos, como as ondas de calor”, disse.