Neste 22 de setembro, o Dia Mundial Sem Carro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou novas diretrizes de qualidade do ar. Essa é a primeira atualização das recomendações desde 2005. De forma geral, a OMS baixou todas as referências dos poluentes clássicos: ozônio, dióxido de nitrogênio, dióxido de enxofre e monóxido de carbono.
De acordo com a instituição, a poluição do ar em áreas urbanas e rurais foi responsável por causar 4.2 milhões de mortes prematuras em 2016. Cerca de 91% dessas mortes ocorreram em países de renda baixa, como no sudeste da Ásia. Além disso, em 2019, 99% da população mundial estava vivendo em lugares onde as diretrizes da OMS não foram atingidas.
O esforço para seguir as recomendações da OMS é também uma forma de combater a mudança do clima. Cerca de 45% das emissões globais de gases de efeito estufa, que causam o aquecimento global, vêm do transporte de passageiros. No Brasil, quase 51.000 mortes por ano são causadas pela poluição do ar. Com a pandemia de covid-19, o sistema de transporte público em diversos municípios foi atingido pela diminuição na quantidade de passageiros, o que prejudica a manutenção do serviço para a sociedade.
De acordo com a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), em 2020, a demanda por transporte urbano em ônibus e trilhos diminuiu 70% nos meses de abril e maio em relação à média mensal anterior ao início da quarentena. Ao mesmo tempo em que questões econômicas colocam em risco o sistema de transporte, a Pesquisa QualiÔnibus, realizada pelo WRI Brasil, mostrou que 50% das pessoas que vivem em nove das grandes cidades brasileiras dependem do ônibus como única opção para deslocamentos diários.
“Para a maior parte da população brasileira, é o transporte público que proporciona o acesso a oportunidades de sobrevivência. Buscar fontes de recursos além da tarifa paga pelo passageiro é urgente para melhorá-lo e propiciar uma mobilidade urbana mais inclusiva, que gere benefícios a toda a sociedade”, disse Luis Antonio Lindau, diretor do programa de Cidades do WRI Brasil.
Além de pensar em como encontrar novas formas de financiar o transporte, segundo a OMS, “políticas e investimentos de apoio a transportes mais limpos, casas com eficiência energética, geração de energia, indústria e melhor gestão de resíduos municipais reduziriam as principais fontes de poluição do ar externo”.
Segundo Rafael Calabria, coordenador do Programa de Mobilidade Urbana do Idec, “entre as alternativas estão, por exemplo, verba proveniente de publicidade no interior dos veículos, pontos de ônibus e terminais ou dinheiro arrecadado com impostos sobre combustíveis de automóveis individuais”.
Para além do transporte coletivo, as cidades também precisam pensar na mobilidade para ciclistas e pedestres. Segundo um levantamento do Itaú Unibanco, a venda de bicicletas no país cresceu 54% em 2020. De acordo com a Rede Brasileira de Urbanismo Colaborativo, antes da pandemia, 9% da população tinha preferência por andar a pé, índice que subiu para 23% em todo o país em 2020.
Para Clarisse Cunha Linke, diretora-executiva do ITDP Brasil, “é preciso rever a regulamentação do transporte público por ônibus para incorporar novas tecnologias que promovam sistemas mais limpos e sustentáveis para as cidades, além de garantir segurança, eficiência e qualidade”.