Para alcançar os objetivos definidos no Acordo de Paris, o mundo precisa avançar nas ações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e remover o máximo possível do que já foi emitido na atmosfera. Um dos caminhos é a agricultura.
De acordo com o biólogo do Centro Internacional para Agricultura Tropical (CIAT), Jacobo Arango, um dos autores do capítulo sobre mitigação do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o setor de agricultura e uso da terra tem um papel importante com o novo documento do IPCC. “Não basta apenas reduzir as emissões, também precisamos remover o carbono da atmosfera.”
Enquanto a concepção popular de captura e armazenamento de carbono é a injeção de dióxido de carbono no subsolo, Arango diz que as plantas de raízes profundas, incluindo aquelas usadas no manejo do gado, podem armazenar carbono de 2 a 3 metros no subsolo como matéria orgânica.
“Ao invés de grandes máquinas sofisticadas que retiram o carbono da atmosfera e o injetam nas formações rochosas, a agricultura faz isso naturalmente com as plantas, juntamente com uma maior produção de alimentos e outros benefícios ambientais, como a conservação da água e da biodiversidade”, explicou.
Arango diz que a chave para criar futuras variedades de forrageiras tropicais, que são plantas como gramíneas ou leguminosas, e manter os rendimentos seria a diversidade genética armazenada no banco de genes Future Seeds na sede do CIAT, na Colômbia, que abriga cerca de 68.000 dados sobre feijão comum, forrageiras tropicais e mandioca, culturas que são uma fonte vital de nutrição e renda para milhões de pequenos agricultores em todo o mundo.
“Estamos pesquisando variedades com raízes longas que desempenham um papel na obtenção de carbono para as camadas profundas do solo, que ainda podem manter a produção para os agricultores”, disse Arango. Se os agricultores receberem plantas melhores, eles vão poder compensar o carbono produzido pelo gado.
“Se encontrarmos alternativas para estabelecer sistemas de produção pecuária com emissões líquidas zero ou mesmo negativas, eles podem até vender créditos de carbono. Isso vai abrir uma nova fonte de renda para que os agricultores participem do mercado global de carbono.”