Mudanças climáticas não são novidade na história de mais de 4 bilhões de anos da Terra. Em resposta às diferenças condições de vida que moldaram as características do planeta, as espécies migraram e se adaptaram para sobreviver. No entanto, as transformações do clima impulsionadas pela queima de combustíveis fósseis, e causadas pelas ações da humanidade, estão acontecendo de forma muito mais rápida do que no passado.
Um novo estudo, publicado no periódico Biological Conservation, analisou como o atual ritmo de aquecimento do planeta interfere na capacidade de adaptação das espécies e o que pode ser feito para permitir que elas se adaptem. De acordo com a professora de ecologia e biologia evolutiva da Universidade da Califórnia em Santa Cruz e autora sênior do artigo, Erika Zavaleta, há um descompasso entre onde as espécies estão agora e onde o habitat e as condições adequadas para elas estão se movendo.
“Precisamos pensar sobre onde estarão os habitats adequados para diferentes comunidades ecológicas no futuro e como eles podem chegar lá”, disse Zavaleta. Segundo o artigo, as condições climáticas às quais as espécies se adaptaram estão mudando enquanto o planeta aquece, o que deixa plantas, animais e ecossistemas inteiros em perigo de ficarem presos a lugares onde não podem mais sobreviver.
“As coisas estão mudando e precisamos ajudar as respostas adaptativas do mundo natural se não quisermos perder tanto as espécies quanto as comodidades que elas proporcionam às pessoas. Dependemos de ecossistemas naturais, e ajudá-los a se adaptar não está separado de ajudar pessoas e comunidades a se adaptarem às mudanças climáticas”, afirmou.
Entre as estratégias identificadas pelos autores, medidas de conservação de longa data, como proteger e restaurar ecossistemas e aumentar sua conectividade, são extremamente importantes. Para enfrentar os desafios relacionados especificamente ao clima, três novas estratégias receberam atenção crescente nos últimos anos: refúgios de mudança climática, migração assistida e proteção da genética adaptável ao clima.
Como exemplo, há o caso dos carvalhos da Califórnia. “Se você pensar em um carvalho de vale, com sementes que são transportadas apenas a uma curta distância por pássaros e que só são viáveis no ano em que caem, você pode ter conectividade entre as árvores, mas elas não vão se mover no mesmo ritmo em que o ambiente está secando. Isso está acontecendo em partes de seu alcance”, explicou Zavaleta. “Então, assistimos até que desapareçam ou as guardamos como mudas em jardins botânicos? E o que precisamos aprender agora sobre como colocá-las de volta na paisagem onde possam sobreviver?”.
Identificar e proteger áreas que possam servir de refúgio para espécies ameaçadas pelas mudanças climáticas se encaixa no quadro tradicional de conservação da biodiversidade. A criação desses espaços pode incluir esforços de restauração de habitats, como a recuperação de áreas degradadas.
A migração assistida inclui o “fluxo gênico assistido”, que envolve a movimentação de organismos entre populações dentro do alcance existente de uma espécie para preservar a diversidade genética, bem como mover espécies para além de seu alcance histórico. Esse tipo de intervenção direta também é alvo de críticas. As preocupações incluem impactos potenciais em outros organismos após a translocação, bem como a possibilidade de prejudicar a população-alvo se os indivíduos se saírem mal no novo local.
Com relação à proteção da diversidade genética, há uma preocupação especial em proteger as variantes que podem se adaptar melhor a condições mais quentes e secas, que são as condições mais prováveis de prevalecerem no futuro, para garantir a manutenção dos recursos genéticos que podem favorecer a resiliência à mudança do clima.