Regeneração natural assistida: a técnica que ajuda produtores e a natureza
Novo estudo demonstrou que a prática pode acelerar a recuperação de áreas degradadas pelo mundo
Enfrentar a crise climática demanda um conjunto de medidas para descarbonizar a economia, estimular a absorção de dióxido de carbono existente na atmosfera e evitar novas emissões de gases poluentes. Entre as diversas possibilidades, restaurar áreas degradadas está entre as ações prioritárias: a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o período entre 2021 e 2030 como a Década de Restauração de Ecossistemas. A expectativa é que milhões de hectares sejam recuperados com vegetação nativa.
Recentemente, o estudo O papel da regeneração natural assistida para acelerar a restauração de florestas e paisagens, realizado pelo WRI Brasil, em parceria com o Instituto Centro de Vida (ICV), o Imazon e a empresa Suzano, mostrou como a Regeneração Natural Assistida (RNA), um meio termo entre a recuperação natural e o plantio ativo de árvores, vem se tornando uma opção cada vez mais atraente para cientistas e produtores por ser um método de alta eficácia e flexibilidade de aplicação em várias paisagens.
A técnica é simples, de baixo custo e pode ter um papel relevante na recuperação de florestas nos diferentes biomas, o que também beneficia o produtor rural ao permitir que ele se adeque ao Código Florestal e participe do combate à mudança do clima.
Quando a vegetação se regenera sozinha, o processo pode ser extremamente demorado. Quando há plantio ativo de mudas, a ação pode se tornar inviável pelos altos custos envolvidos. Ao aplicar técnicas que auxiliam a regeneração natural, como proteger a vegetação que está nascendo, fazer o enriquecimento com espécies nativas, manejar o gado, entre outras medidas, uma série de vantagens foram identificadas.
A estratégia poderá acelerar a regeneração em 240 milhões de hectares nos trópicos, reduzir o custo de implementação em 77%, ampliar a restauração em 900 milhões de hectares no mundo e absorver 23% das emissões do mundo.
No caso da Suzano, em parceria com o Instituto Ecofuturo, organização sem fins lucrativos mantida pela Suzano, a empresa comprou uma área que havia sido desmatada para a produção de carvão e que depois foi usada para a plantação de eucalipto. O local, com cerca de 7 mil hectares de florestas, foi transformado no Parque das Neblinas. O processo de RNA foi elaborado dentro do parque e a restauração teve fins ecológicos, sendo um exemplo da aplicação da técnica para recuperar florestas, biodiversidade e nascentes.
De acordo com a coordenadora de projetos do WRI Brasil e uma das autoras do estudo, Mariana Oliveira, “analisamos o uso da terra, causas da degradação, perfil fundiário, fontes de financiamento e atores envolvidos para identificar os fatores-chave para o sucesso da regeneração natural assistida em cada caso particular”.
“A pesquisa revela que arranjos institucionais robustos e que contam com envolvimento de comunidades são uma condição importante para garantir a permanência da vegetação nativa em áreas regeneradas”, disse.
Para o estudo, os pesquisadores levantaram e sistematizaram 24 experiências práticas de projetos, organizações e empresas que adotaram a regeneração natural assistida, sendo que 15 foram realizados no Brasil e distribuídas em oito estados: Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Paraíba, Pará, Paraná, Santa Catarina e São Paulo.
O estudo também mostrou algumas técnicas para promover a regeneração natural, como o manejo do gado, para evitar o pisoteio da vegetação irá nascer, a instalação de cercas, o controle de espécies invasoras e também de formigas e insetos.
Segundo a pesquisadora do Imazon e uma das autoras do estudo, Andreia Pinto, a Amazônia já tem grandes áreas em regeneração. “Há na Amazônia 7,2 milhões de hectares de áreas com vegetação em regeneração há mais de cinco anos. Conduzir essa regeneração com intervenções para que a floresta permaneça e se desenvolva pode ser uma grande oportunidade para proteger a biodiversidade e gerar renda a partir do uso econômico de produtos florestais não-madeireiros ou por meio de mercados de carbono”, disse.