Há cinco anos, as manchetes nos jornais americanos denunciavam a predominância de homens brancos entre os indicados ao Oscar. Foi o início da hashtag #oscarsowhite (Oscar tão branco). A academia passou então a convidar mais pessoas de diversos perfis a votar. Ao longo dos anos, os resultados apareceram. Em 2020, o sul-coreano Parasita venceu como melhor filme. Em 2021 foi a vez da chinesa Chloé Zhao vencer como melhor diretora, por Nomadland.
Não faltaram, agora, temáticas relevantes nos filmes indicados e premiados: direitos dos negros, feminismo, miséria, direitos civis e até alcoolismo. A maior parte das produções reflete necessidades urgentes do mundo atual. Mesmo que a civilização tenha andado para trás na era Trump, sobretudo no que se refere aos direitos civis conquistados no pós-guerra, ou até mesmo na óbvia constatação que a Terra não é plana, a primavera começa a raiar. Apesar de uma safra de filmes menos fortes no seu coletivo (possível reflexo da pandemia), a premiação do Oscar mostra que cada vez mais histórias fora do padrão galã do heterossexual branco sendo herói tem seu lugar ao sol.
“Um estudo americano mostrou que Hollywood perdeu 10 bilhões de dólares pelo esquecimento dos negros”
No dia da cerimônia do Oscar, o The New York Times publicou um artigo do produtor Franklin Leonard, sobre o viés contra os negros em Hollywood. Ele menciona um relatório feito pela consultoria McKinsey segundo o qual houve um prejuízo de mais de 10 bilhões de dólares causado pelo esquecimento dos negros, fechando o raciocínio com uma pergunta: “Quantos filmes como Pantera Negra poderiam ter sido feitos?”. Estamos tratando de cinema, mas devemos falar também de política. É fácil encontrar homens heterossexuais brancos em situação de poder. No entanto, de quantos presidentes gays já ouvimos falar no mundo? Quantas empresas são lideradas por mulheres? É possível mencionar nobres e honrosas exceções — mas são exceções. Quando, enfim, haverá distribuição e diversificação adequadas?
Recentemente, fiz um curso de liderança na Universidade Harvard. Tive aula com o professor Ricardo Hausmann, autor do Atlas of Economic Complexity, e ele explicou: “Uma sociedade sabe mais quanto mais os indivíduos sabem coisas diferentes”. A aula era justamente para analisar a origem do crescimento econômico e prosperidade. Lanço a provocação: para a sociedade ampliar o seu espectro de conhecimentos diferentes, é fundamental uma gama de perspectivas diferentes. Precisamos fomentar a diversidade. É atalho para a prosperidade.
Há uns vinte anos, as empresas de tecnologia, como o Facebook e o Google, não tinham a relevância de hoje. Sem dúvida, os avanços trazidos pelas redes sociais são enormes, mas assistimos cada vez mais à concentração de poder na mão de algumas poucas empresas — em sua maioria, alheias à diversidade. Depois da pandemia, a miséria e a concentração de renda aumentaram ainda mais, em escala global. O mínimo que seria de se esperar dessas companhias é que assumam sua responsabilidade, independentemente dos credos. Qual a lógica de cancelarem Trump das redes sociais e não cancelarem Bolsonaro e outros líderes negacionistas que atuam contra a ciência e o bom senso? Em vez de fazer a lição de casa e promover a diversidade, preferem o compromisso com o erro.
Publicado em VEJA de 5 de maio de 2021, edição nº 2736