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Star Trek: Sem Fronteiras

Terceiro filme da saga é simpático, mas é um entreato que chegou antes da hora

Por Isabela Boscov Atualizado em 13 jan 2017, 18h13 - Publicado em 1 set 2016, 21h04

É quase como assistir à versão longa de algum dos oitenta episódios da série original, a que foi exibida entre 1966 e 1969: os cenários são uma imitação mais caprichada daqueles planetas de cartolina dos quais o capitão Kirk e o sr. Spock tinham de sair correndo toda semana, a Enterprise apanha feio, o motor pifa e quase não volta a funcionar, os membros da tripulação se desgarram uns dos outros e trocam muitas farpas e one-liners entre si. Star Trek: Sem Fronteiras é o mais familiar, o mais afetivo e o mais passadista dos filmes da série relançada em 2009 – e contém todas as vantagens e desvantagens que essa abordagem pode trazer a um terceiro capítulo, aquele meio de caminho que tradicionalmente constitui o momento mais delicado na vida de uma franquia.

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Depois de uma volta às origens do time em Star Trek (2009) e de tanta ação em escala intergaláctica em Além da Escuridão: Star Trek (2013), deve ter parecido lógico e natural que, agora, Kirk & cia. fizessem um inventário de suas atividades até aqui, e começassem a pensar no que o futuro pode trazer que não seja mera repetição do que eles já viveram. Mas eu me pergunto se essa pausa para balanço não chegou antes da hora: sob o comando do diretor Justin Lin, de quatro Velozes e Furiosos, Sem Fronteiras escapa cedo demais da trajetória traçada por J.J. Abrams. Com tudo que tem de prazeroso, este filme tolhe a saga antes de ela ter atingido sua envergadura plena, e muda o tom antes que a ambição com que se acenara até aqui tenha rendido todos os seus frutos. É um entreato necessário – mas colocado na ordem incorreta.

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Não que eu tenha formulado esse raciocínio enquanto via o filme: com roteiro co-escrito pelo inglês Simon Pegg, o sempre impagável oficial mecânico Scotty, Sem Fronteiras flui bem e é saboroso. Os diálogos são uma delícia, e a habilidade de Justin Lin para equilibrar as participações do elenco é incontestável. Pegg e Karl Urban (o dr. McCoy) continuam sendo meus favoritos, mas Sofia Boutella, a marroquina que fazia Gazelle, a assassina com próteses de lâminas em Kingsman: Serviço Secreto, é um achado como Jaylah, a garota extraviada no planeta distante em que a Enterprise vai realizar uma malfadada missão de resgate. Como sempre, aliás, a certa altura a Enterprise fica aos pedaços, e a cena da sua destruição é uma beleza. Mas ela é uma exceção: as cenas de ação tendem a ser confusas (em vez de grandiosas, como nos dois primeiros filmes) e o vilão interpretado por Idris Elba – irreconhecível – é uma decepção.

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É nele que se percebe como este episódio se apequena em relação aos anteriores: Krall é um desses vilões “da semana”, e o tema que ele coloca em pauta é tão contra-intuitivo que demora-se a entender sua queixa (Krall é uma espécie de terrorista do Isis sideral; ele reclama que a Federação, com seus ideais de paz impostos por meio de patrulha, é uma entidade colonialista que pretende extinguir seu modo de vida violento). Em sua encarnação cinematográfica,  é uma ideia que só se prova grande quando é grande também a ameaça a ser enfrentada. E, por mais simpática que seja a interação entre os personagens, e por mais bonita que seja a homenagem à tripulação original e especialmente a Leonard Nimoy, que morreu em 2015 (Anton Yelchin, morto em junho, ganha uma dedicatória nos créditos finais), essa é a matéria-prima dos seriados de Star Trek para a TV. No cinema, simpatia, um vilão queixoso e um planetinha perdido nos confins do universo são muito pouco.

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Trailer

STAR TREK: SEM FRONTEIRAS
(Star Trek Beyond)
Estados Unidos, 2016
Direção: Justin Lin
Com Chris Pine, Zachary Quinto, Simon Pegg, Karl Urban, Idris Elba, John Cho, Zoe Saldana, Sofia Boutella, Anton Yelchin

 

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