Percepção de corrupção no governo cresceu e é problema para Bolsonaro
Sete em cada dez eleitores acreditam que desvios permeiam a administração. É dificuldade relevante para a campanha do presidente-candidato
O avanço da percepção sobre corrupção no governo é problema novo para o candidato à reeleição Jair Bolsonaro. Já contaminou a avaliação do eleitorado.
Sete em cada dez eleitores acreditam que desvios permeiam a administração Bolsonaro, informa a sondagem realizada pelo Datafolha na semana passada. Para um grupo minoritário (23%) isso não existe.
É dificuldade relevante para qualquer estratégia de campanha eleitoral. Principalmente, a de um presidente que se elegeu em 2018 com a promessa de “acabar” com a corrupção. Agora, ele se vê diante de uma maioria absoluta crédula em corrupção no governo.
A certeza está disseminada entre mulheres (74%). E elas são donas da maioria (53%) dos votos no eleitorado de 150 milhões. Índice mais alto (78%) é registrado no Nordeste, que tem 39 milhões de eleitores, e que se repete na faixa etária mais jovem, de 16 a 24 anos, em todo o país.
Quem não acredita nisso, basicamente, são homens com mais de 60 anos (29%), evangélicos (30%), que moram nas regiões Norte e Centro-Oeste (31%).
O histórico mostra que a convicção amplamente majoritária não é recente e nem deriva das audiências da CPI da Pandemia, que tem pouco mais de dois meses de existência. Ela ganhou impulso na opinião pública no ano passado, no rastro dos indícios de má gestão dos governos em geral no controle da pandemia.
Os eleitores atravessaram todo o ano de 2019 sem ter motivos para mudar sua expectativa. Não achavam que a corrupção no Brasil diminuiria, mas julgavam que ficaria contida. O quadro mudou drasticamente na pandemia.
Bastaram quatro meses de descontrole governamental sobre a Covid-19 para a reversão da expectativa. Em agosto do ano passado registrou-se um salto abrupto (de 13 pontos percentuais no Datafolha) na crença da maioria (56%) de que a corrupção aumentava no país, sobretudo na administração Bolsonaro. A esperança de redução ficou restrita a um pequeno grupo (12%). Na época, o país contava 126 mil mortos na “gripezinha”.
Em março deste ano, sete meses depois, o desgoverno na Saúde levou a um novo salto na desconfiança das pessoas sobre o governo federal. Quase dois terços (67%) passaram a acreditar que a corrupção aumentaria. Esse tipo de expectativa caiu um pouco nos últimos três meses, mas prevalece (56%) no patamar de meados do ano passado.
O inquérito parlamentar no Senado sobre a má gestão na Saúde, condimentado pelas suspeitas de falcatruas no governo, tem grande audiência (78%), segundo uma outra pesquisa, da XP/Ipespe, também divulgada na semana passada.
Má notícia para Bolsonaro: a grande maioria (63%) dos que acompanham as audiências da CPI, e souberam das denúncias, acreditam nas acusações sobre corrupção nas compras de vacinas contra a Covid-19. No entanto, o presidente-candidato pode apostar num grupo minoritário (26%) desse público. Nele, até agora, as acusações ao governo Bolsonaro são classificadas como “provavelmente falsas”.