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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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A fraternidade entre Brasil e Líbano

Cerca de 4% de população brasileira é composta pela comunidade libanesa. Como nações irmãs, os dois países compartilham alegrias e dores

Por Davi Lago
Atualizado em 6 set 2020, 12h01 - Publicado em 6 set 2020, 12h01

Conhecer mais sobre o Líbano é conhecer mais sobre o próprio Brasil. Cerca de 4% de nossa população é composta pela comunidade libanesa. É a maior diáspora libanesa no mundo: 10 milhões de descendentes. Há mais libaneses no Brasil do que no próprio Líbano com seus 5,9 milhões de habitantes segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Este fato, por si só, explica a profundidade dos vínculos fraternos entre os dois países.

Embora as relações diplomáticas iniciem em 1944, após o reconhecimento da independência libanesa, o marco simbólico da inauguração deste relacionamento é a visita de D. Pedro II a Beirute em 1876. Desde então, o intercâmbio cultural, econômico, político não cessou, com destaque para o fluxo migratório intenso no pós-Primeira Guerra Mundial. Com o passar das décadas, a comunidade libanesa enraizou em todos os setores da sociedade brasileira. O reflexo desta imigração está eternizado em clássicos da nossa literatura como Grabriela, Cravo e Canela (1958) de Jorge Amado, Lavoura arcaica (1975) de Raduan Nassar, e Dois irmãos (2000) de Milton Hatoum. Os libaneses legaram ao país talento empresarial, conexões comerciais e instituições notáveis como, por exemplo, o Hospital Sírio-Libanês, centro médico referência criado em 1921 pela Sociedade Beneficente de Senhoras. No Congresso Nacional, cerca de 8% dos parlamentares tem origem libanesa. Murilo Sebe Bom Meihy, professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro, afirma no ensaio História e atualidade da imigração libanesa no Brasil que “o legado libanês mais popular no Brasil é, sem dúvida, aquele dos pratos e quitutes já incorporados ao cotidiano alimentar de qualquer centro urbano brasileiro: coalhadas, homus, tabules, quibes, esfihas e os temperos que dão vida a essas iguarias”. De hábitos alimentares à liderança na cúpula do poder, os libaneses imprimiram sua marca na cultura nacional.

O Brasil, por sua vez, esteve aberto ao Líbano. Vale lembrar que o Líbano moderno passou pelo domínio do Império Otomano e pelo mandato francês até alcançar a independência em 1943. Na sequência, atravessou uma longa guerra civil (1975-1990) e ocupações parciais em conflitos militares com Síria e Israel. Em todos estes períodos o Brasil esteve presente e não foi diferente no mês passado: o Brasil foi o segundo país a realizar uma visita oficial ao Líbano após a trágica explosão no porto de Beirute no dia 4 de agosto. O ex-presidente Michel Temer, de origem libanesa, foi convidado pelo governo brasileiro a chefiar a missão humanitária e diplomática. O Brasil enviou imediatamente 4 mil toneladas de arroz e se dispôs a auxiliar em outras demandas. Destaque ainda para a Força-Tarefa Marítima brasileira na região desde 2011, sob o mandato da Resolução nº1701 do Conselho de Segurança da ONU. As forças militares brasileiras são essenciais na Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL), demonstrando o compromisso histórico do país com a paz e a segurança internacionais. Como nações irmãs – e como em qualquer família – Brasil e Líbano compartilham alegrias e dores. Neste momento difícil em Beirute, a comunidade brasileira reafirmou seus elos fraternos com a comunidade libanesa. As dores do Líbano também são as dores do Brasil.

Davi Lago é pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo

 

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