Coronavírus está a 15 km de um grupo de índios isolados
Governo ignora alertas, Covid-19 chega a região próxima de indígenas isolados no Amazonas e especialistas reagem enviando documento para sala de situação
O descuido do governo com a questão dos indígenas em meio à pandemia gerou um resultado já esperado e exposto por especialistas nas reuniões da chamada sala de situação do Executivo: nesta terça-feira, 28, foi confirmado o primeiro caso de contaminação por coronavírus numa aldeia kanamari que fica a pouco mais de 15 quilômetros de grupos de índios isolados na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas.
A confirmação do caso deixou indigenistas preocupados, já que os povos isolados não possuem imunidade nem para uma simples gripe, e porque não há qualquer tipo de barreira sanitária com equipes de saúde instaladas naquela localidade para se prevenirem da contaminação por Covid-19.
A descoberta motivou a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) a enviar documento para o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, responsável por coordenar a sala de situação que discute a proteção dos indígenas isolados e de recente contato na pandemia, solicitando ações rápidas para reduzir os riscos de contaminação na região.
No documento, a associação afirma que o caso confirmado atingiu um indígena do povo Kanamari, na aldeia Hobana, que fica a pouco mais desses 15 quilômetros de roçados de indígenas isolados que ocupam o interflúvio dos rios Itaquaí e Jutaí. A associação reforça que pediu providência ao governo anteriormente para que as discussões sobre os planos de barreiras sanitárias fossem feitas por região, começando exatamente pelo Vale do Javari.
Indigenistas informaram à coluna que, além de ignorar os alertas da APIB e de especialistas a respeito dos riscos no Vale do Javari, o governo criou um plano que não contempla os reais perigos que os indígenas correm neste momento. De acordo com essas fontes, termina hoje o prazo de 10 dias para que o governo apresente um plano de criação de barreiras sanitárias e provavelmente o documento que será entregue não terá o aval e análise de especialistas no tema.
A sala de situação foi criada após determinação do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), para fazer a gestão de ações de combate à pandemia entre os indígenas em isolamento ou recém-contatados, que não têm memória imunológica para enfrentar o vírus.
Como a coluna revelou, a primeira reunião, realizada em 17 de julho, foi duramente criticada por indígenas. O segundo encontro, no entanto, foi mais tranquilo e sem ataques diretos entre os participantes. Após o terceiro e último encontro, no dia 24 de julho, os indígenas e especialistas voltaram a se queixar da metodologia pouco objetiva da sala e dos representantes do governo por desconsiderarem suas colocações e por desconhecerem temas técnicos sobre o tema.