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Fúria e fofocas: livro estrondoso sobre Trump na Casa Branca

Quase tudo o que se suspeitava sobre o presidente é verdade, mas ninguém conseguiu tantas histórias sobre o tumulto trumpiano como Michael Wolff

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 3 jan 2018, 19h48 - Publicado em 3 jan 2018, 18h38

A maior prova do livro do jornalista Michael Wolff sobre o método caótico reinante nos primeiros meses do governo Trump é o próprio livro.

Wolff, que definitivamente abomina Donald Trump, foi chegando na Casa Branca e foi ficando. Virou, na sua própria descrição, parte da mobília.

Fez mais de 200 entrevistas, revelando desde a tintura de cabelo de Trump – Just for Man, ou Só Para Homens, cuja aplicação ele apressa, daí o tom alaranjado da época da campanha, uma fofoca contada por Ivanka Trump – até as brutais opiniões de Steve Bannon, que em sete meses foi de fazedor de rei a realocado de volta ao seu palanque digital de agitação, o site Breitbart.

Ivanka quer ser presidente, Bannon quer vingança e Trump quer alguma coisa que nem Wolff conseguiu descobrir. Ou não procurou: sua aversão a Trump não deixa espaço para considerações de caráter remotamente humano.

Em compensação, deu um baile nos jornalistas que logo depois da eleição ficavam “tirando selfies de si mesmos, chorando”, segundo uma descrição que não fez dele um sujeito muito popular com os colegas.

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As declarações de Bannon ganharam o maior destaque pelo aparente teor explosivo, ao classificar de “traição” à pátria, para não mencionar a burrice, a reunião de Jared Kushner e Donald Trump Junior com uma suspeita advogada russa supostamente portadora de informações prejudiciais sobre Hillary Clinton.

Como a sobrevivência do governo Trump está ligada aos resultados das investigações do promotor especial Robert Mueller sobre uma suposta colaboração com a inteligência russa para ganhar a eleição, o estilo bombástico de Bannon faz sucesso.

O caminho para ferrar Trump passa por lavagem de dinheiro envolvendo Kushner, Don Jr. e Paul Manafort, o ex-diretor de campanha já indiciado, garante Bannon. A palavra que usou, obviamente, não foi ferrar.

Sobre o real envolvimento com os russos, Wolff, segundo o resumo de seu livro na revista New Yorker, reproduz um relato de Bannon muito menos comprometedor. A fonte foi Roger Ailes, o criador da Fox News afastado por assédio sexual e morto apenas quatro meses depois da posse de seu amigo Trump.

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“No que Donald se meteu com os russos?”, pergunta Ailes num encontro surreal com Bannon. “Basicamente, ele foi para a Rússia e queria se encontrar com Putin. Mas Putin não dava a mínima. Ele ficou lá, tentando”, responde Bannon.

“Steve Bannon não tem nada a ver comigo ou com minha presidência”, reagiu Trump. “Quando foi demitido, ele perdeu não apenas o emprego, mas o juízo.”

A ruptura ainda promete mais pancadaria. Mas dificilmente algo tão ferino quanto as histórias contadas por Roger Ailes. Com a experiência de ter trabalhado para os governos Nixon, Reagan e Bush pai, ele insistiu com Trump sobre a importância de “ter um filho da mãe operando para você em Washington”.

Ou seja, um chefe de gabinete conhecedor dos corredores do poder. O cargo equivale ao de ministro-chefe da Casa Civil, com a diferença de que é nos Estados Unidos. Corresponde, portanto, a ser praticamente um primeiro-ministro do homem mais importante do mundo.

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Trump queria nomear o genro, mesmo que Kushner jamais tivesse ocupado algum cargo político, muito menos no ninho de cobras criadas de Washington. Coube a Ann Coulter, a provocadora profissional do ramo do comentariado, correr o risco de dizer a Trump que ele não podia nomear filhos.

Segundo Wolff, Trump, acostumado a uma vida mais de luxo e mordomias na Trump Tower muito superior à oferecida na Casa Branca, não gostou do novo ambiente. Além de mais duas televisões, exigiu ficar trancado na suíte presidencial – uma privacidade mínima normalmente negada pelo Serviço Secreto.

Os empregados não podem encostar em nada, “principalmente na sua escova de dentes”. Trump “tem um antigo medo de ser envenenado” e ele mesmo tira a roupa de cama quando quer que seja trocada.

E não usa roupão de jeito nenhum, como insistiu em vários telefonemas a pessoas com quem não tem muita intimidade, mas chama assim mesmo. Wolff, que escreveu uma biografia de Rupert Murdoch, conta a história de uma conversa do magnata com o presidente.

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Murdoch pergunta sobre o encontro com todos os nomes mais importantes do Vale do Silício, promovido por Kushner logo depois da eleição. Trump disse que todos tinham ficado muito entusiasmados com os incentivos prometidos através da desregulamentação.

Seguiu-se o seguinte diálogo:

“É uma oportunidade para que eu os ajude”, disse Trump.

“Donald, nos últimos oito anos estes caras tiveram Obama no bolso. Eles praticamente mandavam no governo. Não precisam da sua ajuda.”

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Murdoch acabou terminando a conversa irritado com o “idiota completo” – na verdade, usou um termo mais forte.

Fogo e Fúria: Por Dentro da Casa Branca de Trump, o título do livro, não deixa o menor espaço para alguma esperança em relação a Donald Trump. Exceto, evidentemente, pelo fato de que outros presidentes americanos causaram ojeriza semelhante ou maior ainda.

A história é uma caixona de surpresas e a transformação de Steve Bannon numa espécie de herói de esquerda pelas bombas plantadas no livro de Wolff é apenas uma minúscula projeção desse fenômeno.

Sem contar que os gigantes da economia digital podem suspirar de saudade de Obama e não precisar de Trump, mas Murdoch não ficou mais sábio depois das pesquisas indicando que pequenas e médias empresas estão querendo investir por causa da desregulamentação.

Se, sob a administração de um “idiota completo”, a economia já está crescendo a mais de 3%, já pensaram se ele fosse apenas parcialmente idiota?

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