Os ‘espantosos’ diálogos do secretário de Castro com o chefe do CV
'Talvez você seja um cara mais importante que o secretário de Segurança Pública no Rio', diz o chefe do sistema penitenciário a Marcinho VP
A Polícia Federal prendeu nesta terça o secretário de Administração Penitenciária do Rio, Raphael Montenegro, e dois subsecretários da pasta: Wellington Nunes da Silva (Gestão Operacional) e Sandro Farias Gimenes (Superintendente).
A ação mira um esquema criminoso na cúpula da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária, que manteria uma espécie de pacto com chefões do crime organizado no país.
Conversas gravadas pelos investigadores flagraram todo o acerto entre o secretário Montenegro e os criminosos. Na decisão em que ordena as prisões e buscas contra os investigados, o desembargador Paulo Cesar Morais Espírito Santo reproduz uma série de conversas.
O desembargador chega a registrar que os diálogos “causam bastante espanto”. Ele se refere ao encontro de Montenegro com o chefe do Comando Vermelho, Marcinho VP, preso há 25 anos. A preocupação do secretário, diz o desembargador, “é que as atividades criminosas, que continuarão a ser praticadas com as transferências dos presos perigosos, não causem uma sensação de intranquilidade ainda maior no Estado do Rio de Janeiro, a ponto de chamar a atenção das autoridades”.
“Tu manda na porra toda, não preciso nem perguntar isso. Então assim, ninguém veio aqui jogar papo fora. Você é o cara que — provavelmente você e o (Fernandinho) Beira-Mar são os caras — provocam tudo esse movimento para gente rodar o Brasil inteiro para entender o que tá acontecendo. Acho que o Nem (Antonio Francisco Bonfim Lopes) também é um cara que pede pra gente reavaliar. Então, cara, assim, você é um cara, talvez, assim, a conversa mais importante que a gente vai ter, então hora é hora, agora é hora, cara. Você é um cara que fala bem, você é um cara inteligente, todo mundo sabe, então, irmão, a bola tá contigo, vende teu peixe aí, porra”, diz Montenegro a Marcinho VP.
“Mas o que o senhor quer saber”, questiona Marcinho.
“A gente sabe que você é o frente do Comando (CV), ninguém tem expectativa que você vá pro Rio para largar a vida, a gente sabe, a gente têm consciência dos compromissos que você tem com os seus irmãos, a gente tem consciência do compromisso que você tem com a facção, agora, a gente também sabe que você é um cara que no Rio, pô, pode baixar a poeira pra caralho, né”, diz o secretário.
“Verdade”, responde Marcinho VP.
“Você é um cara que, porra, talvez você seja um cara mais importante que o secretário de Segurança Pública no Rio”, diz o secretário.
“O que acontece… O Sistema Penitenciário Federal na realidade, assim, ele ao invés de ter sido um mecanismo de combate ao crime, ele foi um estímulo ao crime, na verdade”, diz Marcinho.
“A gente sabe de tudo isso, a gente sabe que vocês já tomaram a Família do Norte, que o irmão um, que o irmão X, tá não sei aonde, o irmão Y tá não sei aonde, a gente sabe isso tudo, o seu Benemário já conversou com a gente, o Charles já falou, pô, a gente já conseguiu chegar, chegar no Peru, cara, tudo isso a gente sabe. Voce vai me perguntar, isso me importa? A minha preocupação não é se você vai continuar vendendo ou deixar de vender teu negócio, até porque o negócio que você vende, se você sair alguém vai vender, essa porra vende no mundo inteiro, cara, a minha questão é a seguinte: eu preciso deixar o Marcinho quinze anos longe do Rio de Janeiro? Isso para mim é um atestado de incompetência”, diz o secretário.
“Vocês não vão cometer excessos, mas você sabe qual vai ser a importância de voltar para o Rio. Pô, você sabe, você sabe, você é o cara que está à frente da maior facção do Brasil”, segue o secretário.
Sobre os diálogos, diz o desembargador: “Todos esses elementos postos pela autoridade policial e pelo MPF demonstram uma postura imoral, ilegal, conivente e até fraternal do secretário de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro com presos perigosíssimos que estão cumprindo pena na Penitenciária Federal de segurança máxima de Catanduvas (PR)”.
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