Só felizes para sempre? A expectativa com outros casamentos reais
Matrimônio entre William e Kate serviu para fazer o mundo esquecer a suntuosa — e trágica — união entre Charles e Diana e ajudar a perpetuar a monarquia
Na edição de 5 de agosto de 1981, VEJA trazia na capa a manchete “O último conto de fadas — o casamento do príncipe”, com uma foto dos sorridentes recém-casados na sacada do Palácio de Buckingham, em Londres. “A Inglaterra ofereceu a si própria e ao resto do mundo, na semana passada, um espetáculo deslumbrante, algo que talvez nenhum outro país consiga apresentar, na opaca atmosfera da vida contemporânea. Justamente por esse seu esplendor, o casamento do príncipe Charles com lady Diana Spencer cumpriu, com perfeito sucesso, aquilo que dele se podia esperar: ser um interlúdio de beleza, graça e fantasia num mundo seriamente carente de festas dignas deste nome”, dizia a Carta ao Leitor, escrita pelo então diretor de redação da revista, J. R. Guzzo.
Foi o “casamento do século”, em plena quarta-feira, dia 29 de julho. “Algo entre 750 milhões e 1 bilhão de estrangeiros assistiam, quase sempre embevecidos, ao casamento pela televisão — a maior audiência jamais conseguida na história para um tal evento”, dizia a reportagem. Esse foi o publico que viu lady Di tropeçar na hora do “sim” ao trocar a ordem dos nomes do noivo. Charles Philip Arthur George virou Philip Charles Arthur George.
Num evento cheio de regras, todos estavam de olho nos detalhes. “O recém-eleito presidente François Mitterrand, da França socialista e republicana, fez questão de comparecer à cerimônia de terno, e não de fraque, como recomenda não o protocolo mas a tradição”, relatava a reportagem.
Na ocasião, pequenas concessões foram feitas pela rainha Elizabeth II. Na ocasião, ela permitiu que os convidados do segundo escalão que são divorciados fossem acompanhados pelos atuais consortes. Mas, para quem estava na primeira fila, a história foi outra. “Na ala reservada à família da noiva, na Catedral de St. Paul, não estavam o conde Spencer e sua mulher atual, mas, sim, a verdadeira mãe de lady Di, hoje sra. Frances Shand Kydd, de quem Spencer está separado há quase 15 anos”, dizia o texto.
“Também no reservado almoço no Palácio de Buckingham que se seguiu ao casamento, havia lugar apenas para a mãe da noiva e não para a madrasta. Assim, foi a sra. Shand Kydd, de novo, quem sentou-se a uma das doze mesas, onde comeu cordeiro em prato de ouro maciço”, continuava o texto. Não imaginavam que quase 40 anos depois, Harry, segundo filho de Diana, subiria ao altar com a mesma pompa para se unir a Meghan Markle, uma americana divorciada.
A reportagem foi finalizada com uma dúvida: “Se eles serão felizes para sempre, ninguém sabe — suas chances são mais ou menos iguais às de quaisquer outros casais da realeza”.
Como se sabe, o final dessa história passou longe do mar de rosas que se imagina ser a rotina da família real. Depois de acusações de adultério de ambos os lados, o príncipe e a princesa de Gales se divorciaram em 1996.
Uma nova princesa
Mas este não seria o último capítulo dessa história. “Morta, dentro de um caixão de teca, ainda assustadoramente bela num longo preto, levando nas mãos um terço presenteado por Madre Teresa de Calcutá, a princesa Diana quase derrubou uma monarquia de mais de 1 000 anos”, começava a reportagem de capa da edição de 27 de abril de 2011 de VEJA, que precedeu em dois dias o casamento entre o segundo na linha de sucessão à Coroa, o príncipe William, primogênito de Diana, e a plebeia Kate Middleton.
A união foi um “sopro de renovação e glamour” para a família Windsor, que 14 antes passou pela maior crise de todo reinado de Elizabeth II. Em 1997, um acidente de carro em Paris matou lady Diana Spencer, que não ostentava mais a deferência de Sua Alteza Real, mas ainda possuía o título de princesa de Gales e o carinho dos súditos. Depois da morte, ela passou a ser chamada de Princesa do Povo.
Desde então, a Inglaterra procurava uma nova princesa bela e carismática. A busca se encerrou quando príncipe William anunciou o noivado com sua colega de faculdade, em 2010. O casamento foi marcado logo depois. “Viva, e com certeza esplendorosa no vestido de noiva que se transformará no ato no mais copiado do mundo, outra jovem mulher que pelo casamento se tornará princesa, Kate Middleton, entrará na gótica e milenar Abadia de Westminster carregando sobre os ombros a tácita missão de dar uma boa sobrevida à monarquia britânica”, dizia a reportagem.
Segundo o texto, uma pesquisa da época mostrava que, em 2011, apenas 13% defendiam o fim das cabeças coroadas. “Mas a função simbólica dos membros da realeza continua a exigir o afeto, o respeito ou, no mínimo, uma divertida indiferença por parte de seus súditos. Se William e Kate tiverem um casamento estável, com filhos que perpetuem a linhagem e sem os constrangedores bafafás que cercaram a malfadada união dos pais dele, o arcaico sistema monarquista poderá avançar pelo século XXI afora.”
Para tanto, o cargo real exigiria preparo. Outra reportagem da mesma edição de VEJA mostrou como a futura princesa, ou melhor, duquesa de Cambridge — segundo o título que recebeu após a união — foi instruída para a função.
“Sir David Manning, ex-embaixador britânico nos Estados Unidos e hoje conselheiro de William e seu irmão, Harry, vem ‘falando’ sobre história da família real, assuntos de estado, relações internacionais e particularidades do protocolo. Sophie, mulher do filho caçula da rainha, Edward, que com o casamento ganhou o título de condessa de Wessex, tem colaborado com a noiva em questões relativas à etiqueta e ao trato com jornalistas — ela já teve uma empresa de relações públicas. Helen Asprey, da família de joalheiros, secretária encarregada da agenda de William e Harry, está ajudando nos preparativos do casamento. Todo mundo que entende alguma coisa do assunto tem dado palpites sobre roupas e posturas públicas da futura princesa, que também foi aconselhada a ter aulas de francês e de espanhol”, dizia.
Sete anos depois da união, Kate, mãe de três crianças, é hoje uma das mais admiradas da família real e sinônimo de elegância. Meghan Markle vai ter em quem se inspirar para ajudar no trabalho de manter a família real britânica relevante e popular nas próximas décadas.