Descobri o Tinder há anos. Inicialmente, pensava ser um aplicativo para encontros, que só atraía gente ousada. Em resumo: pares desejosos de ir aos finalmentes o mais rápido possível. Sem necessidade de falar de amor, e outros detalhes que tomam tempo de quem só quer sexo. Estava enganado. O Tinder é para todas as idades, gostos. Eu me surpreendi quando, em uma reunião de pesquisa entre mulheres de classe média, ouvi: “É melhor encontrar alguém pela internet. Dá pra conversar, conhecer melhor, antes de nos vermos pessoalmente”. Mais ainda: na entrega de um prêmio, uma das vencedoras, em cenário e design, elogiou: “Agradeço ao Tinder. Eu não me interessava por desenho, mas aí conheci um cara… O relacionamento não durou, mas através dele descobri…”. Juro, eu estava lá. Testemunhei. Outros aplicativos surgiram. Sei de um somente para quem quer “esperar” para depois do casamento. Gente, até virgens (de ambos os sexos) buscam alguém pela internet!
Tudo evolui. Ávidas por relacionamentos, amor ou pegação, as pessoas transformaram o Instagram no novo Tinder! Claro que alguém pode passar a vida postando fotos de culinária. Eu gosto muito de falar de livros, por exemplo. Mas não estouro nas curtidas. Um amigo postou uma foto pelado. Ganhou 150 000 likes. Milhares de seguidores, só naquele dia.
Recebo muitas mensagens pelo direct. Outro dia, uma garota bonita mandou ver: “Topo tudo”. Nem perguntou o signo! Mas, também, o relacionamento pode evoluir como um namoro do século passado — só muda a plataforma. Muita conversa, depois o convite para um café…
“Ela olha para o celular e sorri. Você acha que está falando com uma amiga. Na real, pode ser um encontro”
Há todo um ritual. Gostou da foto? Você pode começar a seguir. Muitas vezes é o suficiente, a outra parte já puxa conversa. Caso contrário, a saída é curtir os posts. Fazer comentários. Óbvio, seguir. Os suaves falam de beleza e simpatia. Os atrevidos já vão direto ao ponto. Uma mensagem no privado, tipo “quero te conhecer”, muitas vezes é suficiente. Não confunda: há também profissionais, de ambos os sexos. Abrem o jogo rapidamente. Fotos muito insinuantes, ou quase explícitas, já dizem do que se trata. (Embora o app tenha uma política severa de restrição a essas fotos.) Há também quem se apresente com fotos alheias. É desonesto. Mas às vezes rola. Uma conhecida de 30 anos falava com um cara de 32, alto e atlético. Mais tarde ele disse que era um pouco mais velho. Quando se conheceram pessoalmente, viu que tinha 55, era baixinho e calvo. Seguramente, ótimo de conversa. Ela se apaixonou. Casou. Ótimo de papo, realmente. Não trabalhava. Foi um longo e tormentoso relacionamento. Mas o Instagram, diretamente, não tem nada a ver com isso.
Essa rede se tornou uma porta para alguém entrar em sua vida. Isso é lindo. Mas o mesmo vale para seu parceiro ou parceira. Estão juntos, vendo um filme, um reality? Ela olha para o celular e sorri. Você acha que está falando com uma amiga. Na real, pode estar marcando um encontro.
Prepare-se. Você ainda vai ter ciúme do Instagram. Se é que já não tem.
Publicado em VEJA de 19 de maio de 2021, edição nº 2738