A Secretaria Estadual da Polícia Militar do Rio de Janeiro afastou o comandante do 17º Batalhão da Polícia Militar (BPM) da Ilha do Governador. O afastamento foi feito após moradores acusarem a PM pela morte de Eloá Passos, de 5 anos, e de Wendel Eduardo, de 17 anos, neste sábado, 12.
Segundo a secretaria, a medida foi tomada para dar mais “lisura e transparência” à investigação. Porta-vozes da PM afirmam que não havia nenhuma operação policial sendo realizada na comunidade no momento da morte da criança, mas Wendel teria sido vitimado após disparar contra membros da corporação, durante uma abordagem policial.
Eloá foi atingida no peito, por uma bala perdida, quando brincava dentro de casa em uma comemoração familiar no Morro do Dendê. Ao mesmo tempo, moradores se manifestavam na comunidade pela morte do adolescente, que ocorrera durante a madrugada. Ela foi levada por familiares ao Hospital Municipal Evandro Freire, mas não resistiu aos ferimentos. No velório, familiares cobraram o governador do Rio, Claudio Castro, pelas ações violentas dizendo que “na comunidade não tem só bandido”.
O caso ocorre dois dias após o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, parte do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, propor programa para combate a letalidade policial, que classificou como “calamitosa e inaceitável”.
Crianças e adolescentes são vitimas frequentes de operações policiais nas comunidades do estado. Na última semana, um outro jovem, Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, foi morto pela PM, na Cidade de Deus, outra favela do Rio de Janeiro. De acordo com a organização não governamental Rio de Paz, 15 crianças foram vitimadas dessa maneira nos últimos dois anos.
O Instituto Fogo Cruzado, que monitora tiroteios nos centros urbanos, também traz números alarmantes. De acordo com eles, entre 5 de julho de 2016 e 8 de julho de 2023, ou seja, nos últimos sete anos, 36 crianças e 231 adolescentes foram mortos em tiroteios e 334 outros foram feridos da mesma maneira.
“A juventude é alvo no Rio de Janeiro e os dados do Fogo Cruzado mostram isso de maneira muito nítida”, avalia Cecília Olliveira, diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado. “Uma em cada três crianças ou adolescentes foi vítima de bala perdida. 48% deles foi atingido durante uma ação policial. É inacreditável esses números existirem e não termos nenhuma política de segurança que funcione como resposta a eles.