Boate Kiss: que a justiça seja feita
Na sexta-feira 27, familiares e amigos dos que morreram realizaram uma vigília para lembrar os dez anos do crime
Era para ser só mais uma madrugada de diversão para jovens universitários em uma casa de shows, mas o dia 27 de janeiro de 2013 ficou marcado como uma das tragédias mais terríveis da história do Brasil. Por causa de uma sucessão de erros, negligência e irresponsabilidade, 242 pessoas morreram e 636 ficaram feridas no incêndio que destruiu a boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. O uso de um sinalizador pela banda Gurizada Fandangueira em um ambiente isolado por espuma, inflamável, deu início ao fogo. Os minutos seguintes foram de horror. Não havia saídas acessíveis em número suficiente e uma multidão no auge da vida foi pisoteada, intoxicada e queimada enquanto tentava escapar do inferno. Quem conseguiu sair vive com sequelas físicas e emocionais. Na sexta-feira 27, familiares e amigos dos que morreram realizaram uma vigília para lembrar os dez anos do crime. O mote era despertar nas pessoas a lembrança daquele dia, a dor que todos sentiram, e lembrar que, apesar da magnitude da tragédia, a impunidade impera. Os donos da casa de shows, os integrantes da banda e servidores da prefeitura estão entre os 28 indiciados, mas só quatro foram levados a julgamento. As condenações até saíram, mas todos estão soltos. No ato da sexta-feira, faixas questionavam: onde você estava no dia 27 de janeiro de 2013? Todos sabemos onde estávamos. O que se quer, agora, é que todos consigam se lembrar de onde estaremos quando a justiça for finalmente feita.
Publicado em VEJA de 8 de fevereiro de 2023, edição nº 2827