O presidente Jair Bolsonaro decidiu se envolver na disputa interna que ocorre na Igreja Universal do Reino de Deus em Angola. Desde o fim de junho, pastores angolanos da chamada “comissão reformada” da Universal se rebelaram contra a administração brasileira ligada ao bispo Edir Macedo e tomaram de assalto parte dos templos da instituição religiosa no país.
Bolsonaro enviou uma carta ao presidente de Angola, João Manuel Lourenço, manifestando “preocupação” com os “recentes episódios” e pedindo uma proteção maior aos membros brasileiros da Igreja, “a fim de garantir sua integridade física material e a restituição de propriedades e moradias”. “Julgamos ser preciso evitar que fatos dessa ordem voltem a produzir-se ou sejam caracterizados como consequência de ‘disputas internas'”, diz o texto datado da última sexta-feira, 11, divulgado nas redes sociais pelo deputado Eduardo Bolsonaro nesta segunda, 13.
A IURD tem cerca de 500 pastores em Angola, sendo 65 brasileiros.
Presidente do @jairbolsonaro externou igual preocupação em carta endereçada ontem ao Presidente de Angola, João Manuel Lourenço @JooManuelLoure2 . pic.twitter.com/W5lc820Mbb
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) July 13, 2020
VEJA revelou em reportagem que, após ser pressionado por Edir Macedo, o Itamaraty se envolveu pessoalmente no impasse, com ligações do chanceler Ernesto Araújo ao seu semelhante em Angola, Téte António, e um post no Facebook repudiando “episódios de violência e de invasão de propriedade”. Um dos neopentecostais mais influentes do meio evangélico, Macedo é apoiador do governo Bolsonaro desde a eleição de 2018.
Desde que a briga veio à tona, a ala ligada a Edir Macedo passou a atacar os angolanos rebeldes, acusando-os de estarem sendo comandados por pastores expulsos por desvios morais e de atos violentos, como agressão e expulsão de brasileiros de suas casas – versão que foi corroborada na carta de Bolsonaro. “Tendo presente o quanto Angola valoriza a liberdade religiosa e a atuação de diferentes denominações, no marco do respeito ao ordenado angola, estou seguro de que Vossa Excelência acolherá favoravelmente minhas palavras”, escreveu o presidente.
O grupo dissidente da Universal, por sua vez, acusa a gestão brasileira da Igreja de uma série de delitos, como evasão de divisas, lavagem de dinheiro, imposição da vasectomia, discriminação racial e, por último, de contratar uma milícia armada para tentar retomar os templos invadidos à força.
Desde o fim do ano passado, a Procuradoria Geral da República de Angola investiga as denúncias, mas ainda não chegou a nenhum veredito. Também há um processo aberto para verificar o registro da Universal, que está instalada há mais de 28 anos no país.
Desde o início da disputa, a cúpula da Universal vem criticando as autoridades angolanas de não tomarem providências contra os pastores rebelados. Agora, com o apoio explícito do governo Bolsonaro, esperam ações firmes contra os dissidentes.