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‘Carreguei minha filha morta no ventre’, diz mãe de gêmeas com doença rara

Thaiana Loena Fraga, 29 anos, ficou dois meses com uma bebê morta e outra viva na barriga

Por Duda Gomes 9 fev 2022, 08h00
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  • Desde pequena, eu sonhava ser mãe de gêmeos. E quando casei, no ano passado, toda a família ficou animada com a possibilidade de novos bebês, já que sabiam dessa minha vontade. Poucos meses depois, chegou meu momento. Descobri que estava grávida, e foi a maior alegria da minha vida. No primeiro ultrassom, só deu para ver uma das bebês. Fiquei realizada, mas também um pouco frustrada porque desejava dois. A surpresa veio no segundo exame: eram de fato duas meninas. Mal conseguimos acreditar. Ficamos extasiados e decidimos chamá-las de Maria Alice e Maria Heloísa.

    Quando elas tinham quatro meses, minha prima, que é ginecologista e obstetra, me alertou sobre a Síndrome de Transfusão Feto-Fetal. É uma condição traiçoeira, quando os dois cordões umbilicais dos bebês se unem, e um começa a sugar líquidos amnióticos, sangue e nutrientes do outro. Aqui no interior do Mato Grosso, onde eu moro, nunca tinha ouvido falar disso. Não tive nenhum aconselhamento dos médicos sobre o problema. Decidimos, então, ir a Campo Grande, onde há mais recursos. Comecei a fazer ultrassons de 15 em 15 dias, até que no dia 26 de novembro, veio a triste notícia. Um acúmulo do fluxo sanguíneo do lado da Maria Heloísa. A Maria Alice já estava em estado grave, perdendo nutrientes. Como consequência, eu precisaria fazer uma intervenção cirúrgica, ou então um parto naquele dia mesmo. Eu estava com 27 semanas, e caso elas nascessem naquele dia, seriam muito prematuras. Ou seja, as duas correriam risco muito grande de vida.

    Precisei viajar de novo, desta vez para Campinas, para fazer a cirurgia. A operação custou 80.000 reais, mas na hora eu nem pensei em valor, apenas nelas. Chegando lá, outro médico me avaliou e disse que eu tinha apenas metade das chances de salvar as duas. Mas eu acreditei que seria possível. E foi. No sábado,realizamos a cirurgia: um corte na minha placenta, para entrar com uma câmera e um laser, e cauterizar o canal de ligação entre elas. No domingo, eu já estava de alta e meus nenéns estavam bem. Na segunda-feira, retornei ao hospital para fazer mais um ultrassom de rotina. Ali, os médicos constataram que Heloísa já estava sem vida. Ela não aguentou todo o fluxo sanguíneo que estava recebendo e o coração dela tinha parado de bater. A Alice estava lá, pequenininha, e precisei ficar de repouso absoluto para ela não ficar mais comprometida.

    Ela foi melhorando enquanto a irmã estava do lado, mas já sem vida. Por um tempo me senti revoltada, distante de Deus. Não conseguia nem fazer uma oração. Meu marido teve um papel essencial. Ele me fez ver que eu não conseguiria sair dessa sozinha. E que precisava da minha fé. Mesmo carregando uma filha viva e outra morta na barriga, nunca parei de sentir amor, e nem de passar a mão na barriga do lado que ela estava. Por alguns momentos, eu até acreditava que o coração da Heloísa pudesse ter voltado a bater.

    Em 25 de janeiro, elas nasceram. Alice veio primeiro, saudável, chorando muito alto. A Heloísa veio depois, e os médicos me perguntaram se eu queria vê-la. Eu disse que sim, afinal, era a minha filha. Eu beijei ela e vi um bebê perfeito, igual a irmã. Só quem já sentiu essa dor pode entender. Estava muito feliz por ter uma filha, mas ao mesmo tempo triste pela outra. Tenho certeza que foi Deus. Ele quis que eu enxergasse uma bebê perfeita, e é essa imagem que vou guardar dela, porque eu tenho certeza do que eu vi. Muita gente fala que não sabe como eu não fiquei doida. Sinceramente, eu também não sei. A Maria Alice é um milagre. E é por ela que eu estou aqui, com todo meu amor e dedicação. Recebemos muita ajuda nesse período, fizemos rifas e vaquinhas online para custear a cirurgia, e agora espero poder ajudar outras pessoas de alguma forma também. Vou levar a lição de nunca perder a fé.

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