A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, afirmou nesta quarta-feira que há “uma imperiosa necessidade de se superar o quadro de violência” vivido atualmente no Brasil. Durante o lançamento da Campanha da Fraternidade 2018 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cujo tema é “Fraternidade e Superação da Violência”, Cármen declarou ainda que a situação exige “solidariedade, fraternidade e a capacidade de amar e perdoar”.
“Eu fico me perguntando em que sociedade sonhamos quando a desconfiança e a violência contra o outro é o que se prega, e o que pelo menos se põe como a semente que pode florescer fazendo do outro não seu irmão, mas alguém que é preciso combater”, refletiu a ministra.
Para a ministra, a missão do Judiciário é a aplicação do direito para buscar a solução de conflitos “de todas as formas contra todas as pessoas”. Ela se pronunciou depois de o secretário executivo da Comissão Brasileira de Justiça de Paz da CNBB, Carlos Moura, destacar que a comunidade negra é a maior vítima de violência do Brasil. “Há necessidade de encararmos, todos nós, emanados na perspectiva de superação do preconceito, da discriminação, que vitimiza essa comunidade”, disse ela.
A presidente do STF afirmou também que o Poder Judiciário tem “atuado de forma digna e de forma correta” para tentar superar esses problemas de maneira democrática.
No lançamento da campanha também falaram o presidente da CNBB, cardeal Sergio da Rocha, o secretário-geral da conferência dos bispos, dom Leonardo Steiner, e o deputado federal Alessandro Molon (Rede-RJ), coordenador da Frente de Prevenção à Violência e Redução dos Homicídios na Câmara dos Deputados.
Durante os discursos, foram citados os números de violência do Brasil e os recentes episódios que marcaram o Carnaval, sobretudo no Rio de Janeiro, que registrou diversos saques, arrastões e roubos.
‘Candidatos que promovem mais violência’
Após o evento, o cardeal Sergio da Rocha comentou as eleições de outubro e disse que a Igreja quer candidatos comprometidos com justiça social e paz, e “não aqueles que promovam ainda mais a violência”. A manifestação ocorreu após Rocha ser questionado sobre como a Igreja vai se posicionar diante de presidenciáveis que defendem a liberação de porte de armas em alguns casos, por exemplo, como o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ).
“A Igreja está orientando os próprios eleitores, não substituindo suas consciências, mas ajudando a formá-las”, disse o presidente da CNBB a jornalistas.
Os representantes da entidade e o deputado Alessandro Molon ainda destacaram que é inadmissível que o poder público tente resolver os problemas da violência com atitudes “falsas e simplistas”. A campanha da CNBB reforça a importância do Estatuto do Desarmamento, que pode ser flexibilizado por projetos em tramitação no Congresso. “É um grande equívoco achar que superamos a violência recorrendo a mais violência”, afirmou Sergio da Rocha.