Datas: Jean-Claude Bernardet, Daniel Kleppner e Maria Augusta Rodrigues
As despedidas que marcaram a semana
O belga Jean-Claude Bernardet, que desembarcou no Brasil aos 13 anos com a família, era uma multidão: crítico, professor, historiador, roteirista, diretor, ator e militante político. Ele ajudou o cinema brasileiro a enxergar a si mesmo, em livros clássicos como Brasil em Tempo de Cinema e Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro. Discípulo de Paulo Emílio Salles Gomes, que o levou para a Cinemateca Brasileira e o apresentou aos editores do Suplemento Literário de O Estado de S. Paulo nos anos 1960, Bernardet não tinha medo de briga: seja com a ditadura, que cassou seu título de professor da USP, seja com monstros sagrados — mas bons de discussão — como Glauber Rocha. Irônico, a seu feitio, dizia que os militares fizeram de um professor quase anônimo um opositor de relevância do regime. Em 1967, ele escreveu com Luiz Sergio Person o roteiro de O Caso dos Irmãos Naves. Morreu em 12 de julho, aos 88 anos. Convivia com o HIV, a perda da visão em decorrência de degeneração ocular e um câncer de próstata que resolveu não tratar com quimioterapia.
No lugar certo
Se você anda de carro por aí, sem se perder, atrelado a aplicativos onipresentes como o Waze ou o Google Maps, agradeça ao físico americano Daniel Kleppner. Em meados dos anos 1950, ele começou a desenvolver, nos laboratórios da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, onde passava um período de estudos, um relógio atômico cuja precisão seria a base dos sistemas de GPS, de posicionamento global. Cuidadoso, podia levar anos para pôr uma ideia em pé. Em entrevista à revista da Fapesp, instado a comparar as atividades de professor com a de pesquisador, deu linda e bem-humorada resposta: “Ensino e pesquisa caminham juntos. Há uma vantagem psicológica. Porque, às vezes, os experimentos dão errado e ficamos muito aborrecidos. Sempre há um consolo ao pensar: ‘Rá, mas eu ainda sou um professor!’”. Kleppner morreu em 16 de junho, aos 92 anos.
“Como será o amanhã?”
A carnavalesca Maria Augusta Rodrigues esteve no coração de um movimento revolucionário dos desfiles de escolas de samba do Rio de Janeiro. Pelo Salgueiro, de mãos dadas com nomes como Joãosinho Trinta, Arlindo Rodrigues e Rosa Magalhães, ajudou a instalar a cultura negra no coração dos enredos — entre eles, o clássico Festa para um Rei Negro, de 1971, campeão daquele ano e que entrou para a história com o refrão “olelê, olalá / pega no ganzê / pega no ganzá”. Anos depois, pela União da Ilha do Governador, reinventou a festa levando ao asfalto temática intimamente ligada ao cotidiano dos cariocas. E atire a primeira pedra quem não se emocionou com o samba depois gravado por Simone O Amanhã, de 1978: “Como será o amanhã? / Responda quem puder / O que irá me acontecer / O meu destino será como Deus quiser”. Maria Augusta morreu em 11 de julho, aos 83 anos, em decorrência de um câncer.
Publicado em VEJA de 18 de julho de 2025, edição nº 2953

