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Escândalo sexual expõe guerra pelo comando da igreja Deus é Amor

Briga envolve filhos e neto do missionário David Miranda, fundador de uma das mais tradicionais instituições evangélicas do Brasil

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h50 - Publicado em 28 abr 2023, 06h00

A Igreja Pentecostal Deus é Amor é uma das maiores e mais tradicionais instituições evangélicas do Brasil. Fundada em São Paulo, em 1962, pelo missionário David Miranda (falecido em 2015), a IPDA tem hoje mais de 17 000 templos e filiais em 88 países (veja o quadro). Todo esse crescimento foi possível mesmo tendo uma das mais rígidas doutrinas entre as denominações religiosas do país. As mulheres, por exemplo, não podem cortar o cabelo, fazer a sobrancelha ou se depilar. Aos homens não são permitidas barbas longas nem calças apertadas. Seus membros também não podem frequentar praias. A reafirmação das normas foi feita em julho do ano passado, durante uma apresentação que contou com a presença da cúpula, como a diretora, Ereni Miranda, viúva do fundador. Três meses depois, no entanto, um grande escândalo abalou a instituição e resultou no afastamento de Léia Miranda, filha de David Miranda, acusada de comportamento sexual impróprio. Na esteira do episódio, a igreja se viu em meio a uma saraivada de acusações entre herdeiros do patriarca e o barraco já chegou à Justiça. O pano de fundo é a luta pelo controle da igreja.

O episódio que detonou a guerra familiar foi a divulgação de um áudio de WhatsApp, cuja voz foi atribuída a Léia — nele, a pastora, cantora e missionária supostamente fazia inconfidências sexuais sobre o seu relacionamento com um pastor. O caso ganhou repercussão dentro e fora da igreja e Léia, mesmo dizendo ser vítima de armação, foi afastada pela mãe do comando de duas entidades: a Fundação Reviver e a Associação Beneficente Reviver Help.

GOLPE - Léia: afastada, ela foi ao ataque a seus parentes
GOLPE - Léia: afastada, ela foi ao ataque a seus parentes (@LeiaMirandaFanPage/Facebook)

O barraco gospel pegou fogo de vez no mesmo dia do anúncio da punição. Assim que foi comunicada de seu afastamento, Léia pegou um microfone — no momento ocorria um culto — e fez um discurso apontando o dedo para seus detratores. “Ninguém está acreditando naquele áudio, apenas a diretoria. Por quê? Por causa da corrupção ali dentro, por causa do conchavo com a maçonaria, eles querem destruir a Igreja Pentecostal Deus é Amor e eu tenho sido o obstáculo para eles realizarem isso ”, disse. Depois, citou nominalmente David Oliveira de Miranda Almeida (seu sobrinho, conhecido como David Neto) e a mãe dele, Débora Miranda (sua irmã). “Falsos, mentirosos, filhos do diabo, escravos de Satanás, agindo desta maneira, pior que ímpios, é como eles estão agindo.”

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O incidente ganhou tração nas redes sociais, em especial em páginas de fofoca gospel (sim, elas existem), e chegou à Justiça. Em dois processos distintos, iniciados nas últimas semanas, Débora e David dizem que foram alvos de injúria e difamação e pedem a condenação criminal da irmã/tia. “Se Léia possuía insatisfações quanto à condução dos assuntos da instituição pela diretoria, as quais, curiosamente, só afloraram após ser comunicada da medida interna que lhe desagradou, ela certamente poderia tê-las endereçado de maneira não ofensiva, que não estivesse resumida a ataques pessoais”, disse Débora na ação.

PATRIARCA - David Miranda: visão conservadora do papel da família
PATRIARCA - David Miranda: visão conservadora do papel da família (@igrejadeuseamor/Facebook)

Como parte de sua defesa no caso, Léia processa as redes sociais que continuam divulgando o tal áudio constrangedor. Ela nega que a voz seja sua e contratou um perito para avaliar o material. O profissional, no entanto, não conseguiu verificar a integridade do material, pois há montagens e supressões de vozes. “Léia não teve um caso amoroso com o rapaz. Ela é divorciada, mãe de dois filhos adultos, vive em meio evangélico e é necessário ter uma reputação boa, ilibada, livre de quaisquer máculas”, afirma a defesa.

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arte religião

Essa não é a primeira vez que um alto membro da Deus é Amor é afastado depois de escândalo sexual e de brigas entre familiares. Irmão de Léia, David Miranda Filho saiu da congregação em 2015, após vazarem áudios com conteúdo sexual que ele teria enviado a uma jovem. Depois, ele acabou fundando a sua própria instituição, a Igreja Pentecostal Santificação no Senhor, em São Paulo. Agora, na nova briga familiar, ensaia se aproximar de Léia, com quem teve desavenças na divisão da herança do pai.

A disputa em torno do comando da igreja Deus é Amor (cujo nome David Miranda diz ter sido revelado pelo próprio Deus durante uma madrugada de oração) contrasta com o comportamento rigoroso que o patriarca sempre exigiu de uma família — para ele, o casamento, por exemplo, é uma “instituição divina” e “uma aliança entre o homem e a mulher até a morte”. Para uma instituição construída sobre rígidos alicerces morais, o barraco gospel em curso parece obra do demônio.

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Publicado em VEJA de 3 de maio de 2023, edição nº 2839

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