Ex não precisa ser inimiga, diz Ana Cristina, que foi casada com Bolsonaro
Ela pretende escrever um livro sobre os dezesseis anos em que esteve ao lado do presidente
Em entrevista a VEJA, Ana Cristina Valle confirmou que está de mudança para Brasília, que pretende disputar uma vaga no Congresso em 2022 e que vai escrever um livro sobre os dezesseis anos em que esteve ao lado do presidente Jair Bolsonaro.
O que a senhora pretende fazer em Brasília? Estou indo primeiro por causa do meu filho. Quero dar apoio ao meu filho e estar ao lado dele. Acho que ele se sente muito sozinho. O pai não tem tempo para ajudá-lo, para participar da vida dele. Então, vou para dar o apoio moral e emocional que ele está precisando. Eu também pretendo advogar.
Isso tem algo a ver com as notícias de que seu filho estaria fazendo lobby no governo? Ele é um rapaz de 22 anos, mas ainda é um pouco imaturo e não tem a malícia das pessoas que estão ao redor dele. Então, acaba ficando exposto.
Como assim? Muitas pessoas chegam perto dele por interesse. Acontece demais. Então, a gente tem de saber separar os negócios dele da vida política do pai. Ele não tem nada a ver com isso, não opina em nada, não trabalha no governo.
É difícil ser filho do presidente da República? A vida dele fica engessada. Se o pai arrumar um emprego para ele, o pessoal vai falar que é nepotismo. Qualquer coisa que ele fizer, a mídia cai em cima falando que ele fez coisa errada. Ele precisa seguir a carreira no setor que gosta, que é de games, de vídeos, Instagram, YouTube. Vou ajudá-lo nisso.
Qual a relação da senhora com o lobista Silvio de Assis? Eu fui uma vez numa feijoada, mas eu nem conheci ele direito. Sei que era o dono da casa, cumprimentei e ficou só nisso. Um amigo, que não vou dizer o nome, me convidou. Coisa de Brasília. Foi um almoço, não foi festa. Acho que não fiquei mais de uma hora e meia. Eu o cumprimentei porque era o dono da casa. Nada mais do que isso.
Houve alguma proposta de emprego ou de parceria? Eu nem sei o que o Silvio faz da vida. Fui lá uma única vez, foi um almoço que durou no máximo uma hora e meia, nós conversamos na mesa e depois fui embora. Ele sabia bem quem eu era, mas eu não sabia quem ele era. Você sabe o que o Silvio faz?
Ele é um conhecido lobista, já foi preso e responde a vários processos na Justiça. Ixi! Se eu soubesse, não tinha nem ido. O fato é que o filho pediu um socorro, e a mamãe está indo para Brasília. Acho que qualquer mãe faria isso. Também pretendo tentar uma vaga no Congresso.
O presidente sabe disso? Da minha pretensão? Ele sabe. Em 2018, fui candidata, mas desisti. Quando o Jair foi alvo da facada, abri mão da minha campanha e saí para fazer campanha para ele. Ainda assim recebi 5 000 votos, sem fazer nada, só na rua pedindo votos para ele.
Em que pé está o seu processo sobre a rachadinha, que investiga o envolvimento da senhora e os filhos do presidente? Não tive mais notícia nenhuma. No ano passado, fui chamada a prestar depoimento no Ministério Público. Era um depoimento on-line, por causa da Covid, mas não aconteceu. Estou à inteira disposição das autoridades.
É verdade que a senhora está escrevendo um livro sobre o seu casamento com o presidente Bolsonaro? (Risadas) Está estagnado ainda. Mas a ideia está na cabeça.
Haverá grandes revelações? Bomba eu não acredito, mas polêmico será. A gente viver dezesseis anos com um homem… a gente sabe bastante coisa, né?
Vocês tiveram uma separação pouco amistosa. É disso que se trata? Dizem que ex tem de ser inimiga. Eu penso o contrário. A ex não precisa ser inimiga. Eu queria ser muito amiga dele e poder ajudá-lo, como eu ajudei a vida inteira.
No livro, a senhora se dedicará mais à política ou à vida pessoal? Será a parte pessoal, não política.
E qual será o tema da melhor história? Por enquanto, é segredo.
Publicado em VEJA de 3 de fevereiro de 2021, edição nº 2723