Desde o alerta para o risco de surto de febre amarela no país pela Organização Panamericana de Saúde (Opas) – braço regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) -, o anúncio da vacinação fracionada e a confirmação de nove mortes pela doença, os postos de saúde têm ficado cada vez mais lotados por pessoas que buscam a imunização contra a enfermidade. Em muitos casos, as filas para aguardar o atendimento, que podem se estender por quase um quilômetro, têm sido marcadas por estresse e desinformação, com períodos de espera de quase sete horas.
Nesta terça-feira, a OMS passou a considerar todo o estado de São Paulo como área de risco de febre amarela e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) informou que a vacinação fracionada contra a doença em 54 municípios será antecipada de 3 de fevereiro para 29 de janeiro. Apesar de as notícias terem aumentando a corrida aos postos de saúde, a Secretaria Estadual da Saúde diz que não há motivos para pânico, o que não diminui a dificuldade para o atendimento.
Esse é o caso de Dorival Cruz, aposentado, e Karina, que é auxiliar-administrativa. Ambos esperaram horas para serem atendidos no Centro de Saúde do bairro de Pinheiros, na Zona Oeste da capital paulista. “Já estou esperando há seis horas na fila. Cheguei aqui às oito horas da manhã e ainda não fui atendido”, disse o aposentado – a fila no local chegou a quase 800 metros. “Aproveitei que estou de férias para conseguir ficar na fila, caso contrário, não teria vindo”, disse Karina, que iria tentar vacinar ela e o filho.
Para Antônio Gomes, que também é aposentado e estava procurando atendimento na UBS Humberto Pasqualli, no centro da cidade, o que mais incomodava era a falta de instrução e cuidado. “Estou aqui há duas horas, perguntei se havia uma fila preferencial e disseram que não. Eu tinha que ficar na fila esperando sem saber se ia ser atendido”, comentou. A cabeleireira Valquíria Silva, que aguardava junto com ele, concordou. “Somente informaram que o tempo mínimo de espera era de cinco horas”, disse. Ela reiterou, também, a preocupação com pessoas que aparentavam estar “furando” a fila.” Um funcionário pediu para que não deixássemos espaços abertos porque tinham pessoas furando a fila e eles não conseguiam controlar.”
A estudante Erica Pereira, antes de ser atendida na mesma UBS, comentou que primeiramente havia tentado ser vacinada em Osasco, na Grande São Paulo, mas que desistiu devido ao tamanho da fila. “Cheguei lá às sete da manhã e a fila estava muito grande, não tinha condições de ficar porque seria tentar a sorte”, disse. Ela tentou novamente no Humberto Pasquialli e conseguiu ser atendida após sete horas de espera. Segundo ela, a fila no local atravessava o quarteirão e se estendia por muitos metros. “Às vezes, os funcionários ficavam irritados, mas não tem como, é muito difícil para todos”, comentou, depois de dizer que fez questão de tomar a vacina nesta terça depois da onda de notícias negativas sobre a doença. “Sinto que as informações estão muito limitadas, tem muita coisa não sendo dita. Por isso, muitas pessoas estão procurando ajuda”, finalizou.
Com o aumento de casos de infecção no estado de São Paulo, o Ministério da Saúde decidiu enviar mais de 1 milhão de doses de vacinas contra a febre amarela. O número de mortes pela doença no estado chegou a 21, segundo balanço da Secretaria Estadual de Saúde. A meta do governo com a nova campanha de vacinação fracionada é imunizar mais de 7 milhões de pessoas – 2,5 milhões só na capital paulista. A dose fracionada tem 0,1 ml, enquanto que uma dose convencional – que ainda está sendo distribuída – tem 0,5 ml. A vacina fracionada permite a imunização por oito anos; a dose convencional garante proteção para toda a vida.