‘Foi um crime premeditado’, diz aposentado agredido por ser gay
Eduardo Michels, 62 anos, e seu companheiro, Flavio Micellis, 60 anos, foram agredidos com chutes e socos no feriado de Tiradentes, no Rio
No dia 21 de abril, feriado de Tiradentes, Eduardo Michels, 62 anos, e seu companheiro, Flavio Micellis, 60 anos, foram espancados por moradores do prédio onde moravam. Com chutes, socos e enforcamento, o casal foi agredido por cerca de 20 homens que participavam de uma festa na aérea externa do prédio, localizado na Barra da Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro.
Eduardo contou a VEJA que enfrenta dificuldades no relacionamento com os vizinhos há cerca de dois anos. As reclamações registradas por Flavio, que é engenheiro civil aposentado e Eduardo, funcionário público aposentado, à imobiliária do prédio sempre foram relacionadas a perturbação do sossego devido a festas com som acima do permitido.
Antes das agressões, o casal ouviu um dos homens dizer que “hoje o pau vai quebrar. É hoje que a gente pega eles” – eles moram no térreo e as janelas do apartamento são direcionadas para aérea de festas. Eduardo esperou Flavio chegar para poder sair do prédio – ao sair foi abordado por um dos homens que deu início às agressões. Flavio foi jogado no chão e recebeu diversos chutes na região genital. Segundo Eduardo, os agressores humilharam o casal, disseram diversos palavrões e afirmaram que ali “não era lugar de veado”.
“Tivemos que sair escoltados pela polícia. Foi um fato muito traumático para nós dois. Depois das agressões, nós trancamos em casa aterrorizados. A polícia nos escoltou para fora do prédio e ainda ouvimos uma mulher dizer que Deus nos ama e vai nos curar”, disse.
O caso foi registrado no 20º DP da Vila Isabel como contravenção penal. “Foi um crime premeditado. Um ataque tipicamente homofóbico. Estamos sentindo muito medo desde o ocorrido e não temos mais segurança para andarmos na rua”, afirmou. Segundo ele, um dos agressores é policial militar aposentado.
Desde o ocorrido, o casal não conseguiu voltar para o apartamento e enfrenta problemas com a administradora do prédio. “A imobiliária entrou com uma ordem de despejo contra nós e ainda nem sabemos o motivo. Só quero voltar pra lá para pegar nossas coisas e, para isso, estou aguardando o efeito das medidas protetivas que pedimos. Não vou me calar. O que aconteceu no feriado foi uma tentativa de homicídio, um crime premeditado”, afirmou Eduardo.
O aposentado ainda conta que registrou o início das agressões com o celular. “Saí filmando para baixo para não correr o risco de ser agredido logo de cara, mas não adiantou, eles vieram pra cima de nós do mesmo jeito. Hoje vivemos uma sensação de vulnerabilidade total.”
Nas imagens é possível ouvir um homem dizer: “Não fica tirando onda aqui, não. Eu vou te meter a porrada”. Confira o vídeo momentos antes do início das agressões: