O doleiro Lúcio Bolonha Funaro, que negocia um acordo de delação premiada com a Justiça, revelou à Polícia Federal que teve três encontros com Michel Temer (PMDB). No depoimento prestado no último dia 14, ele afirmou que mantinha um relacionamento próximo com o presidente e que era responsável pela arrecadação de recursos para campanhas do PMDB. O peemedebista negou ter tido encontros com o doleiro.
Funaro afirmou que esteve com Temer em três oportunidades. A primeira, segundo ele, foi na Base Aérea de São Paulo, junto com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sem especificar a data. O segundo encontro, afirmou ele, aconteceu em Uberaba, Mina Gerais, durante as eleições municipais de 2012. Desse segundo encontro, afirmou, participaram Cunha e um dos delatores da JBS, o executivo Ricardo Saud.
O terceiro encontro com Temer, segundo Funaro, foi uma reunião de apoio à candidatura de Gabriel Chalita (PMDB) para a Prefeitura de São Paulo. Ele diz que o encontro foi na Assembleia de Deus do bairro Bom Retiro, com a presença dos bispos Manoel Ferreira e Samuel Ferreira.
Funaro diz que trabalhou na arrecadação de fundos das campanhas do PMDB em 2010, 2012 e 2014. O doleiro estima que nessas três campanhas arrecadou 100 milhões de reais para o PMDB e partidos coligados. Parte dos recursos foi arrecadada em operações do FI-FGTS. Segundo o doleiro, a aplicação dos recursos seguia a orientação de Temer.
O depoimento de Funaro traz muitos detalhes do relacionamento que ele tinha com o empresário Joesley Batista, dono da JBS, que fez delação premiada. O doleiro diz que foi o responsável por apresentar o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) a Joesley quando o peemedebista, ex-ministro de Temer, era vice-presidente de pessoa jurídica da Caixa, onde a JBS tinha interesse em obter linhas de crédito.
Segundo Funaro, Geddel recebia comissões pagas por ele nessas operações financeiras que beneficiavam a JBS na Caixa. Funaro disse que também pagou comissão ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco (PMDB). Os pagamentos, diz ele, eram feitos em espécie. Funaro se comprometeu a dar os detalhes à PF.
A relação de Funaro com o grupo de Temer era tão próxima, sustenta o doleiro, que ele diz ter sugerido a Cunha a indicação de um nome para o Ministério da Agricultura para facilitar as demandas do grupo econômico de Joesley. “Para o cargo foi indicado Antonio Andrade”, afirmou. Andrade, que ocupou a pasta na gestão de Dilma Rousseff (PT), é vice-governador de Minas Gerais.