Funcionária que denunciou assédio moral é nova presidente interina da EBC
Servidora de carreira, a jornalista Kariane Costa foi alvo de um processo de demissão após denúncias durante o governo Bolsonaro
A jornalista Kariane Costa foi escolhida para presidir interinamente a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), rede de notícias estatal responsável pela Agência Brasil e rádios de alcance local e nacional. Sua nomeação foi publicada na noite desta sexta-feira, 13, no Diário Oficial da União, com previsão de que ela ocupará o cargo durante a transição para o governo Lula, até o final de outubro.
Servidora de carreira e representante do Conselho de Administração da EBC (Consad) eleita pelos trabalhadores, Kariane foi responsável por fazer denúncias de assédio moral na empresa no ano passado, durante o governo de Jair Bolsonaro. À época, Kariane afirmou que empregados que apresentavam denúncias de censura, vigilância de redes sociais privadas e assédio moral eram intimidados pela empresa e que ela, como representante do Consad, recebia constantemente relatos de colegas.
Após fazer uma denúncia na ouvidoria da empresa, no entanto, o relato teria vazado, o que lhe acarretou uma interpelação criminal na qual é acusada de calúnia, injúria e difamação e um processo de demissão por justa causa, atualmente em curso. “Estamos sendo impedidos de cumprir a nossa função pública para a qual fomos concursados e por isso temos sido retaliados”, disse à época, afirmando ainda que “por se tratar de uma empresa pública, a perseguição a jornalistas extrapola os direitos individuais e é também uma violação ao direito à informação e à liberdade de imprensa”.
Destituição da antiga diretoria
Além de sua nomeação, foi publicada a exoneração da diretoria da antiga gestão, entre eles Glen Lopes Valente, diretor-presidente da EBC, Roni Baksys Pinto, diretor-geral, Sirlei Batista, diretora de Jornalismo, Márcio Kazuaki Fusissava, diretor de Administração, Finanças e Pessoas e Pedro Marcos Boszczovski, diretor de Operações, Engenharia e Tecnologia. Apenas Denilson Morales da Silva, diretor de Conteúdo e programação e único na direção que é empregado de carreira, permanecerá no cargo.
Apesar de a nomeação de Kariane ter sido a única já publicada, foram indicadas quatro mulheres em cargos de assessoria ou gerências da empresa, conforme informou o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta. Elas são Rita Freire, que foi presidente do Conselho Curador da EBC, extinto na gestão do ex-presidente Michel Temer, Juliana Cézar Nunes, empregada concursada da empresa, e as jornalistas Nicole Briones e Flávia Filipini.