Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Grupos radicais de apoio a Bolsonaro viram caso de polícia

Guerra de narrativas em meio à pandemia faz florescer movimentos de fanáticos pelo presidente

Por Edoardo Ghirotto Atualizado em 4 jun 2024, 14h32 - Publicado em 22 Maio 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Em mais uma prova de que o Brasil é mesmo um país que beira o surrealismo na crise que já causou a morte de mais de 1 000 pessoas por dia em decorrência da Covid-19, as ruas praticamente vazias de algumas das principais cidades brasileiras viraram picadeiro para radicais políticos e negacionistas da gravidade do coronavírus. Em geral, as manifestações reúnem apoiadores fanáticos do presidente Jair Bolsonaro, que levam ao extremo o discurso do líder contra a quarentena, os governadores e, quase sempre, as instituições democráticas. Não à toa, o STF autorizou um inquérito para apurar quem financia os movimentos que desde março provocam aglomerações em Brasília para pedir coisas como intervenção militar e fechamento do Congresso. No último domingo, quando o país ultrapassou 16 000 mortos pela Covid-19, o presidente não só voltou a saudar os manifestantes como fez flexões com paraquedistas da reserva que, em meio à pandemia, saíram do Rio de Janeiro para ir ao ato uniformizados com calça camuflada, boina e camiseta com caveiras. Outro grupo carregava um caixão e entoava gritos de “Bolsonaro é quem manda aqui”.

    .
    CARREATA - Marginal Tietê: caminhoneiros contestam a quarentena no estado (Miguel Schincariol/AFP)

    No festival de bizarrices, destaca-se o acampamento dos autodenominados “300 do Brasil”, título em referência aos espartanos que lutaram até a morte contra a invasão persa na Grécia antiga, segundo relato do historiador Heródoto (484-425 a.C.). Líder dos “300 do Brasil”, Sara Winter ficou conhecida ao participar seminua de ações do grupo feminista radical Femen. Abandonou o movimento dizendo-se traída e tornou-se uma católica fervorosa contra o aborto. Tão fervorosa que trabalhou até outubro para Damares Alves no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Agora, ganhou projeção ao sugerir que havia armas entre os “300 do Brasil”, algo que negou após o Ministério Público entrar com uma ação contra o movimento. Winter, que fracassou ao tentar ser deputada federal pelo Rio em 2018, disse no Twitter que montou o acampamento a pedido de Olavo de Carvalho, o guru bolsonarista. Após arrecadar mais de 70 000 reais via crowdfunding, a trupe ainda monta e desmonta barracas no estacionamento do Ministério da Justiça.

    ASSINE VEJA

    Coronavírus: ninguém está imune
    Coronavírus: ninguém está imune Como a pandemia afeta crianças e adolescentes, a delação que ameaça Witzel e mais. Leia na edição da semana ()
    Clique e Assine

    Trata-se de um movimento pequeno, mas que causa barulho e demonstra algum grau de capilaridade. Em São Paulo, Antônio Carlos Bronzeri e Jurandir Pereira foram presos em outro acampamento, na Assembleia Legislativa, por descumprir medidas judiciais impostas após terem sido detidos em flagrante durante um protesto em frente à casa do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Um dos organizadores do acampamento é David Alexander, que se orgulha de ter sido preso ao invadir o Congresso em 2016, gesto que ameaça repetir. “Ousem tocar no presidente Bolsonaro e verão a ira do povo”, escreveu no Facebook. Desse mesmo local saíram carreatas que pararam a Avenida Paulista em protesto contra a quarentena.

    Continua após a publicidade
    Antonio-Bronzeri-Jurandir-Alencar-PRISAO-ALEXANDRE-MORAES-STF-2020-1.jpg
    CADEIA - Bronzeri e Pereira: prisão após ameaças a Alexandre de Moraes (Polícia Civil/.)

    Durante décadas, da reabertura até uns cinco anos atrás, as pessoas que defendiam valores antidemocráticos e ultraconservadores faziam isso apenas em algum evento familiar ou mais fechado. Com as redes sociais e o fracasso retumbante dos governos petistas em tópicos como a corrupção, esse grupo passou a se sentir mais à vontade para expor suas opiniões. O presidente Jair Bolsonaro não só soube capitalizar esse movimento como, de fato, encarna tais bandeiras desde sua primeira eleição. Não por acaso, é um ídolo para esses manifestantes, que, em muitos eventos, são acompanhados por parlamentares de sua base, entre eles os deputados estaduais Gil Diniz e Douglas Garcia, ambos do PSL, de São Paulo. Movimentos assim teriam tudo para merecer apenas uma nota de rodapé do folclore político nestes tempos conturbados. Mas a realidade e o apoio do presidente a essas barbaridades mostram que elas precisam ser levadas a sério. Primeiro porque alguns de seus adeptos passaram a extrapolar tanto que viraram caso de polícia. Depois porque guardam em si uma semente perigosa, algo que, em determinadas circunstâncias, pode representar, sim, um risco à democracia. Está aí um tipo de confusão de que o país não precisa — bastam os desafios da pandemia e a recessão econômica que vamos enfrentar.

    Publicado em VEJA de 27 de maio de 2020, edição nº 2688

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.