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Joesley: ‘Pedi ao Aécio que parasse de me pedir dinheiro’

Dono da JBS, Joesley Batista revela aos investigadores os detalhes de repasses de propina a Aécio Neves entre 2014 e 2017

Por Felipe Frazão Atualizado em 21 Maio 2017, 14h53 - Publicado em 19 Maio 2017, 18h53

A delação da JBS entrega duas acusações contra o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG). Nas duas, o tucano é acusado de pedir propina: 63 milhões de reais em 2014 e mais 2 milhões de reais nos primeiros meses de 2017.

A contrapartida seria a atuação em favor do grupo empresarial J&F e uma prometida, mas não entregue, liberação de 24,1 milhões de reais em crédito de ICMS. Aécio ainda teria se comprometido a trabalhar para aprovar no Congresso a lei de abuso de autoridade e o projeto de anistia ao caixa dois de campanha eleitoral.

Candidato à Presidência da República em 2014, o tucano foi afastado do cargo de senador, licenciou-se da presidência do PSDB nacional e só não foi preso porque o Supremo rejeitou um pedido da Procuradoria-Geral da República. A irmã dele, a jornalista Andrea Neves, não teve a mesma sorte. O senador é suspeito de ter cometido os seguintes crimes: corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro, constituição e participação em organização criminosa e obstrução de investigação.

Os detalhes da propina a Aécio foram revelados em depoimentos de integrantes da cúpula do frigorífico, especialmente o sócio Joesley Batista, interlocutor direto do senador, e o ex-diretor Ricardo Saud, a quem cabia executar os pagamentos em dinheiro vivo. Em 2014, parte da propina serviu para compra de apoio partidário à campanha presidencial do tucano. Segundo Saud, o dinheiro abasteceu os cofres de diretórios e caciques de vários partidos que apoiaram, formal ou informalmente, a candidatura do tucano ao Planalto.

Aécio Neves recebeu dinheiro outras vezes da JBS, conforme a delação. Joesley Batista também disse que comprou um imóvel – um “predinho” superfaturado – de um jornal em Belo Horizonte, por 17 milhões de reais, para que o dinheiro chegasse nas mãos do tucano, em 2015. No ano passado, Aécio pediu mais 5 milhões de reais a Joesley, durante um encontro pessoal na casa do tucano.

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O delator afirma que, diante dos sucessivos pedidos, teve que implorar para que as exigências de dinheiro cessassem. “Eu chamei um amigo dele, o Flávio Carneiro, e pedi para o Flávio pedir ao Aécio para parar de me pedir dinheiro, pelo amor de Deus, porque eu já estava sendo investigado”, declarou Joesley. O senador deu um tempo nas investidas.

Aécio não tinha meias palavras nas conversas que mantinha com Joesley Batista. Num encontro no hotel Unique em São Paulo, em março passado, o senador combinou o pagamento da propina de 2 milhões de reais solicitada inicialmente por meio da irmã presa e que viria a ser efetuada com ajuda de um primo, Frederico Pacheco de Medeiros, carregador das malas de dinheiro. Foram quatro parcelas de 500 000 reais – num dos pagamentos, a Polícia Federal, já ciente do suborno e com aval da Justiça, acompanhou todos os passos e registrou em fotos e vídeos o flagrante, a chamada ação controlada.

Toda a conversa foi gravada pelo delator. Nela, Aécio não mede palavras, nem censura temas. Cita o presidente Michel Temer e o hoje ministro do Supremo Alexandre de Moraes numa tentativa de interferir na escolha de delegados da Lava Jato e xinga o delegado Maurício Moscardi Grillo, coordenador da Lava Jato e da Carne Fraca, ao desferir críticas à última operação. “Pega um cara, um filho da p. e (sic) tô vendo aqui ele começou a falar agora no Jornal Nacional [da TV Globo] ontem, cara de idiota do c. o tal do delegado”, disse Aécio.

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Aécio também relata o esforço para aprovar no Congresso projetos como anistia ao caixa dois e abuso de autoridade. “Nós estamos com essa agenda, eu estou mergulhado nisso aqui. Até a tampa”. O tucano conversa com Joesley ainda sobre a necessidade de “tirar tudo [dinheiro] do Caribe”, em referência às empresas offshore que operam na região.

Ouça a conversa entre Joesley e Aécio:

A assessoria do senador afastado Aécio Neves divulgou a seguinte nota sobre o episódio relatado por Joesley Batista:

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“Sobre o diálogo gravado por Joesley Batista, sem o seu conhecimento, o senador Aécio Neves esclarece que:

O diálogo se deu numa relação entre pessoas privadas, no qual o senador solicitou apoio para cobrir custos de sua defesa, já que não dispunha de recursos para tal.

O empréstimo feito pelo empresário da JBS não envolveu recursos públicos e seria regularizado por meio de um contrato mútuo, se o objetivo de Joesley Batista não fosse, desde o início,  única e exclusivamente, forjar uma situação criminosa para ganhar os benefícios da delação premiada.

Não houve na conversa gravada descrição de nenhum ato ilícito da sua parte, tendo ocorrido uma provocação de Joesley, agora claramente explicada, de assuntos outros, que não o pedido de empréstimo, com o objetivo único de obter do senador declarações políticas sobre temas polêmicos.

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Como já foi esclarecido, foi proposta ao executivo a venda de um apartamento, no Rio de Janeiro, de propriedade da família do senador há mais de 30 anos. O delator, já atendendo aos interesses de sua delação, propôs emprestar recursos, o que ocorreu sem nenhuma contrapartida, não havendo qualquer tipo de prova ou mesmo indício de que tenha ocorrido alguma atuação do senador na esfera pública em favor da JBS.

O próprio delator Saud afirma à PF que: “Aécio nunca fez nada por nós”, o que torna infundada qualquer acusação de pagamento de propina.

Todos os recursos recebidos da empresa pela campanha presidencial do PSDB, em 2014, estão declarados na prestação de contas do partido e não envolveram contrapartida ou uso de dinheiro público.

Um total R$ 50,2 milhões foram doados pela JBS ao comitê financeiro nacional e à Direção Nacional do PSDB. Desse total, R$ 30,44 milhões foram repassados para a campanha presidencial. Outros R$ 6,3 milhões foram doações feitas a diretórios regionais e candidatos estaduais e R$ 4 milhões doados no período pré-eleitoral, totalizando R$ 60,5 milhões em doações integralmente declaradas ao TSE.

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Sobre a Operação Lava Jato, não existe qualquer ato do senador Aécio, como parlamentar ou presidente do PSDB, que possa ter colocado um empecilho sequer aos trabalhos da Polícia Federal ou do Ministério Público.

O senador Aécio desconhece a operação mencionada por Veja sobre offshores no Caribe e tal informação não consta da gravação divulgada pelo STF.

 Por fim, Aécio lamenta os termos inadequados que usou na conversa gravada, sem o seu conhecimento, e destaca que jamais fez tais referências no ambiente de trabalho, já tendo se manifestado diretamente junto a cada um dos companheiros e autoridades mencionados.

O senador Aécio lamenta todos os acontecimentos narrados e fará, com serenidade e firmeza, sua defesa junto à Justiça e a seus eleitores para demonstrar a correção de suas ações e a farsa da qual foi vítima, montada pelo delator de forma premeditada a forjar uma ação criminosa. 

Lutará também, pelos meios legais, para que a injustiça cometida contra sua irmã e seus familiares seja reparada e revertida o mais rapidamente.

Assessoria do senador Aécio Neves”

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