O juiz Diogo Negrisoli Oliveira, corregedor da Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia, determinou a transferência do PM reformado Ronnie Lessa para a Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, na semana passada. A transferência ocorreu sob sigilo na última quarta-feira, 9, por questões de segurança. A informação foi confirmada a VEJA pela defesa de Lessa e pela 7ª Vara Criminal Federal de Porto Velho.
O magistrado atendeu ao pedido do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) de separá-lo do ex-PM Élcio de Queiroz, na tentativa de evitar que eles combinem versões para o Tribunal do Júri, ainda sem data definida. O ex-PM, por sua vez, foi mantido em Porto Velho.
Lessa e Queiroz são apontados, respectivamente, como o atirador e o motorista do Chevrolet Cobalt clonado que emboscou o carro da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, assassinados a tiros no Estácio, região central do Rio de Janeiro, em 14 de março de 2018.
A transferência ocorreu no dia seguinte ao crime completar mil dias sem responder quem são os mandantes e o porquê de Marielle e Anderson terem sido mortos. Nesta segunda-feira, 14, o duplo homicídio completa dois anos e nove meses sem as respostas. A principal linha de investigação que vigora hoje é a tese de uma vingança contra o partido, mas, principalmente, contra o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), amigo pessoal da parlamentar e responsável pela investigação da CPI das Milícias em 2008, que terminou com 226 indiciados por atividades paramilitares.
O advogado Bruno Castro, que defende Lessa, disse que soube da transferência apenas no dia seguinte, quando foi visitá-lo no Presídio Federal de Porto Velho, onde Lessa estava desde maio de 2019 junto a Queiroz.
Desde a prisão dos dois em 12 de março de 2019, eles passaram um breve período na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Lá também estava Orlando de Araújo Oliveira, o Orlando da Curicica, miliciano que revelou a existência do Escritório do Crime em 2018 citando Lessa. A pedido da defesa de Curicica sob alegação de questões de segurança, Lessa e Queiroz foram, então, transferidos para Porto Velho.
O MP do Rio vem tentando a separação dos dois desde janeiro deste ano. No entanto, com a pandemia do coronavírus, o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) suspendeu as transferências de presidiários nas unidades federais, assim como visitas de familiares e de advogados. A medida, contudo, foi revogada em 5 de novembro.
Henrique Telles, advogado responsável pela defesa de Queiroz, declarou que seu cliente já estava separado de Lessa em blocos diferentes na unidade prisional de Porto Velho. Ele e Castro, que defende Lessa, classificam a medida como “desnecessária”, já que seus clientes estavam presos juntos há um ano e oito meses.
Em nota enviada a VEJA na noite de hoje, o MP-RJ esclareceu que “o pedido teve como objetivo evitar que Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz permanecessem na mesma unidade prisional até o plenário do júri, o que lhes permitiria combinar uma versão comum sobre o crime, o que atrapalharia as investigações”.
Mil dias sem elucidação do caso Marielle e Anderson
Na semana passada, VEJA revelou que dois milicianos do Escritório do Crime se filiaram ao PSOL em novembro de 2016. Laerte Silva de Lima e sua mulher, Erileide Barbosa da Rocha, são suspeitos de se infiltrar no partido a fim de monitoramento de agendas e eventos da sigla de Marielle, que seria assassinada com Anderson pouco mais de um ano depois.
Braço armado da milícia que cobra taxas e pratica extorsões, Laerte tem endereço ligado à sede do “Escritório” da organização criminosa, conforme VEJA mostrou, e era homem de “extrema confiança” do ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Adriano Magalhães da Nóbrega, o capitão Adriano, e de outros membros da chefia do Escritório.
Laerte foi preso na Operação Intocáveis 1, em janeiro de 2019, ação que desmantelou as principais lideranças da máfia. Já capitão Adriano permaneceu foragido desde a operação até fevereiro deste ano, quando foi morto pela Polícia Militar da Bahia em circunstâncias ainda não esclarecidas pelas autoridades.
Além de cuidar da contabilidade da organização criminosa que comandava Rio das Pedras e Muzema, no bairro Itanhangá, Zona Oeste do Rio, Erileide fazia o gerenciamento de carros clonados da organização criminosa – ela foi flagrada em áudio tentando se livrar de provas que comprometiam o marido. Posteriormente, ela se tornou ré por obstrução de justiça. Atualmente, está em prisão domiciliar e monitorada por uma tornozeleira eletrônica.