Um laudo produzido pela Polícia Civil nesta quinta-feira, 22, ao qual VEJA teve acesso, traz novas pistas sobre o homicídio do pequeno Henry Borel, de apenas 4 anos, dentro do apartamento em que vivia com a mãe, Monique Medeiros, de 33 anos, e com o padrasto, o vereador e médico Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, de 43, na madrugada de 8 de março, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Os dois foram presos pelos investigadores fluminenses no último dia 8 de abril e vão responder por homicídio duplamente qualificado e tortura contra a criança.
O documento, que é complementar ao primeiro laudo que apontou a causa da morte como hemorragia interna e laceração hepática provocada por ação contundente, foi solicitado pela 16ª DP (Barra da Tijuca), que investiga o caso, a partir de perguntas, e reafirma as lesões provocadas no corpo do garoto – havia marcas nos braços, pernas e perfurações em seus rins e pulmões. De acordo com análise técnica dos peritos com base no boletim médico da entrada do cadáver de Henry no hospital Barra D’or, “o tempo estimado para esse aspecto do corpo encontra-se dentro de uma faixa compreendida entre uma e três horas após a morte”.
A verificação da perícia traz, ainda, outra revelação: “pode-se afirmar, baseado nas informações médicas analisadas, que o evento que conduziu à morte ocorreu entre 23h30 e 03h30”. A entrada do corpo da criança no relógio do hospital se deu às 3h50 daquela madrugada. No entanto, o horário do elevador do condomínio Majestic, que mostra Monique descendo com a criança no colo – e provavelmente já morta – marca 4h09. Não se sabe, ainda, qual das marcações de tempo estaria errada ou, eventualmente, atrasada. O pai da criança, Leniel Borel de Almeida, foi informado sobre a internação do filho às 4h20, conforme VEJA revelou.
Por outro lado, o laudo que indica os diversos hematomas não aponta a dinâmica do crime, tampouco as formas como os brutais machucados foram desferidos contra a criança. A causa do assassinato pelo rompimento do fígado de Henry, portanto, não pôde ser definida. A única evidência que o laudo aponta sobre isso é que a criança pode ter morrido em minutos ou em até quatro horas – não se pode definir precisamente porque isso depende dos vasos sanguíneos rompidos quando Henry foi vítima de ação contundente. VEJA revelou duas outras crianças torturadas por Dr. Jairinho na mesma faixa etária do Henry. Elas alegaram, em depoimento à polícia ou em narração às suas mães, que ele as deitou e pisou nelas, jogando todo o peso de seu corpo de homem adulto sobre os dois pequenos.
No final de semana em que ficou com o filho, Leniel notou que havia um pequeno machucado no nariz de Henry. Ele questionou a criança sobre como isso teria sido feito, e Henry disse ao pai que não se lembrava. A nova perícia mostrou, no entanto, que elas foram causadas por agressões feitas com a unha. Outra agressão similar, feita a unhas, foi localizada no rosto do cadáver da criança.
O laudo atesta, ainda, que a criança foi vítima de diversas contusões – algo que, cientificamente, reforça a tese da polícia de que Henry foi barbaramente machucado em uma sessão de tortura – e descarta, taxativamente, que a morte do pequeno garotinho tenha ocorrido devido a uma queda da cama do casal, conforme a versão apresentada (e já desmantelada) por Dr. Jairinho e Monique à polícia.