A kryptonita que tirou parte da força e provocou o desmoronamento da imagem de um herói veio na forma do vazamento de mensagens do Telegram. Nos diálogos revelados a partir de junho pelo site The Intercept Brasil e analisados por veículos como VEJA, o então juiz Sergio Moro orientava a inclusão de provas em processos da Lava-Jato, sugeria datas de operações, dava palpites em acordos de delação e cobrava celeridade em manifestações, em meio a outras demonstrações de parcialidade. Os procuradores seguiam as ordens e, entre uma e outra ação, faziam piadas e comentários constrangedores sobre os investigados. O chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol, sofreu o maior desgaste. Soube-se que ele elaborava estratégias para atingir membros do STF contrários às teses de Curitiba, comemorava encontros com os ministros mais simpáticos à causa (“Aha, uhu, o Fachin é nosso”, escreveu aos colegas após sair de uma reunião com o relator da Lava-Jato no Supremo) e ganhava dinheiro com palestras, inclusive de uma empresa sob a mira da Lava-Jato. Entre julho e setembro, na Operação Spoofing, a Polícia Federal prendeu seis hackers responsáveis pela invasão. A Vaza-Jato, como o episódio acabou sendo apelidado, não chamuscou seriamente apenas a imagem dos envolvidos (mesmo contra todas as evidências, Moro e companhia fincaram o pé na posição de não reconhecer a autenticidade dos diálogos). O episódio fez virar os humores do STF contra a Lava-Jato, sendo o exemplo mais eloquente disso o fim das prisões após segunda instância, decisão que tirou o ex-presidente Lula da cadeia em novembro. Em 2020, a Segunda Turma do STF deve julgar, ainda sob o impacto das mesmas revelações, se Moro foi parcial na condução dos processos contra o petista. O atual ministro da Justiça goza ainda de muita popularidade, mas não há como negar que o tiro de kryptonita provocou estragos — e mudou a história da Lava-Jato.
Publicado em VEJA de 1º de janeiro de 2020, edição nº 2667