A Justiça de São Paulo determinou a transferência de pelo menos seis integrantes da cúpula da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) a um presídio federal. Os envolvidos foram investigados pela Operação Echelon, que apontou o controle de negócios da facção por detidos na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior paulista.
Nas decisões, o juiz Paulo Sorci, da 5ª Vara de Execuções Criminais de São Paulo, cita as atividades realizadas pelos detentos no presídio. “O grupo criminoso mantém em andamento projetos de tomada de pontos de vendas de drogas que estão sob controle de facções rivais, mantém o propósito de cometer assassinatos e, inclusive, idealizaram os atentados contra agentes públicos e prédios públicos no início de junho de 2018 nos Estados de Rio Grande do Norte e Minas”, escreveu o juiz. “Como se verifica, o grande objetivo desse núcleo criminoso está na disseminação do modo de agir da facção criminosa autodenominada PCC, para os demais Estados brasileiros.”
As decisões foram assinadas entre o dia 19 de outubro e o dia 15 deste mês e referem-se a Cláudio Barbosa da Silva, o Barbará, Almir Ferreira, o Nenê da Simioni, Reginaldo do Nascimento, José de Arimateia Pereira, Cristiano Gangi e Célio Marcelo da Silva, o Bin Laden.
Os presos citados nas sentenças chefiavam a célula do PCC encarregada de expandir os negócios da quadrilha fora de São Paulo. Eles haviam assumido a função após outros 14 detentos, incluindo o líder do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, terem sido transferidos para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), área de isolamento no presídio de Presidente Bernardes, também no interior paulista, no ano passado.
As sentenças proferidas por Sorci são desdobramentos da Echelon e não têm relação com um pedido feito à Justiça este mês pelo Ministério Público Estadual (MPE) para transferir chefes do PCC a presídios federais. Em outubro, a polícia descobriu um plano de resgatar a cúpula da facção da penitenciária em Presidente Venceslau — o aeroporto da cidade chegou a ser fechado para impedir essa ação.
O estado de SP cogitou transferir os líderes do PCC, mas a ideia dividia opiniões dentro do governo paulista. O PCC é a única organização do crime organizado no Brasil cujos membros da cúpula não estão em um presídio federal.
‘Salves’
Nas sentenças, Sorci cita a troca de mensagens entre os detentos. “Descobriu-se que aqueles presos ‘escolhidos’ escreviam ‘mensagens’, conhecidas como ‘salves’, que deveriam ser enviadas para líderes que se encontravam livres (foragidos e libertados), sendo que outros detidos codificavam os bilhetes.”
A investigação que culminou na Echelon, deflagrada pela Polícia Civil e pelo MPE em junho contra membros do PCC, partiu de uma “pescaria” feita nos dutos de esgoto das raias da Penitenciária 2. A interceptação das mensagens foi feita com a instalação de telas.
A investigação também apontou a existência de ordens para matar policiais e agentes penitenciários. Para o juiz, mesmo detidos em penitenciária de segurança máxima, houve “práticas delitivas gravíssimas”, o que justificaria a transferência.
O juiz determinou a transferência dos detentos pelo prazo de 360 dias. Procurada pela reportagem nesta quarta-feira, 21, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) não quis se manifestar sobre as sentenças.