Réu em cinco processos, três deles provenientes da Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou o procurador da República Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa que investiga o esquema de corrupção na Petrobras, de “moleque”. E acrescentou que o procurador, que é fiel da Igreja Batista, acha que “sentar em cima da Bíblia dele” é a solução dos problemas do país.
“Fomos criados para mudar a história deste país e para agir corretamente. Quem comete erro paga pelo erro que cometeu. A instituição é muito forte. E aquele Dallagnol sugerir que o PT foi criado para ser uma organização criminosa… O que aquele moleque conhece de política? Ele nem sabe como se monta um governo. Não tem a menor noção. Ele acha que sentar em cima da Bíblia dele dá a solução de tudo”, disse Lula.
As declarações foram feitas durante o seminário “O que a Lava Jato tem feito pelo Brasil”, promovido pelo PT, em São Paulo. Com a voz fraca e abatido por uma virose, Lula falou menos de dez minutos e chegou a chorar ao dizer que fez um esforço para comparecer ao evento apenas para dar uma satisfação aos mais de 200 convidados que lotaram o auditório de um hotel. Além de dirigentes petistas, o seminário contou com a presença de juristas, jornalistas, sindicalistas e políticos de outros partidos.
As críticas de Lula a Dallagnol cresceram depois que, em setembro do ano passado, o procurador deu uma entrevista coletiva na qual disse que o petista era o “comandante máximo” da organização criminosa que promoveu desvios na Petrobras. Para exemplificar como o petista era o centro do esquema, ele usou uma apresentação em Powerpoint, que tinha o nome de Lula ao centro, cercado por irregularidades cometidas na administração pública e na Petrobras na sua gestão.
A entrevista, transmitida ao vivo por emissoras de TV, tinha por objetivo apresentar denúncia contra o petista no caso do triplex do Guarujá, que a Procuradoria entende ser um presente da construtora OAS ao ex-presidente com dinheiro desviado da estatal. Apesar de ter acusado Lula de ser chefe de uma organização criminosa, Dallagnol não denunciou o ex-presidente por isso, mas por corrupção e lavagem de dinheiro. Lula se incomodou com a afirmação e foi à Justiça contra Dallagnol, pedindo R$ 1 milhão de indenização por danos morais.
Na defesa de Dallagnol, a Advocacia-Geral da União, que defende Dallagnol no caso, disse que o procurador é vítima de “retaliações indevidas” por parte do ex-presidente e que esse tipo de ataque pode comprometer “a independência e o funcionamento adequado do Ministério Público”.
Nesta sexta-feira, Dallagnol não respondeu à fala de Lula. Quando foi processado, ele afirmou que “é natural que pessoas investigadas reajam”. “E quando essas pessoas são poderosas econômica e politicamente, as reações tomam vulto. Não nos surpreendemos, encaramos com naturalidade”, disse à época.
Excessos
Os participantes do seminário do PT defenderam as investigações da Lava Jato, mas destacaram os supostos abusos da força-tarefa. Lula desafiou os procuradores a apontarem quais crimes ele cometeu. “Estou na expectativa para saber qual é o crime que será imputado a mim. Vou nessa briga até o fim. Não tenho negociata. Eles vão ter que provar”, disse o ex-presidente.
(Com Estadão Conteúdo)