Macarrão entrega Bruno e revela detalhes da morte de Eliza
Luiz Henrique Ferreira Romão passa, da condição de melhor amigo do goleiro à de delator do crime. Versão apresentada durante a madrugada aos jurados põe Bruno como mentor do assassinato e ele, Macarrão, como mero motorista
Por Leslie Leitão, Marcelo Sperandio e Pâmela Oliveira
22 nov 2012, 03h19
Companheiro inseparável, fiel guardião do goleiro Bruno Fernandes, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, afirmou, por volta das 2 horas da madrugada desta quinta-feira, no Fórum de Contagem (MG), que o ex-jogador foi o mandante do assassinato de Eliza Samudio.
Depois de quase três horas relatando detalhes desde quando o jogador conheceu Eliza, passando pelo encontro com a jovem no Rio de Janeiro e a viagem para Minas Gerais, em junho de 2010, ele admitiu que, no dia do crime, o “patrão” o mandou entregar Eliza a um homem, em um local indicado perto da Toca da Raposa, na Pampulha, em Belo Horizonte. Foi a ordem para ela ser executada: “Eu estava pressentindo que eu ia levar ela para morrer”, disse Macarrão.
Pouco antes de iniciar a parte mais dura do relato, Macarrão pediu perdão a Sônia de Fátima Moura, mãe da vítima. Dizendo não saber se ela estava no plenário, afirmou: “Quero que saiba que, se eu soubesse que Eliza iria morrer, falaria tudo”, disse.
A expectativa de que Macarrão confessaria o crime – o “plano B” citado em uma carta revelada por VEJA em julho deste ano – se confirmou. Mas não exatamente como queria o goleiro. Esperava-se, no caso de uma confissão, que Macarrão livrasse o amigo e patrão. Mas o relato do réu tentou deixar Bruno como o dono das decisões sobre o destino de Eliza. E ele, Macarrão, apenas como o motorista que transportou Eliza até seu algoz.
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O réu começou a revelar os fatos do dia 10 de junho, dia em que Eliza foi morta, contando que percebeu “um clima estranho” quando Bruno atendeu uma pessoa ao telefone. Bruno pedia para ele (Macarrão) levar Eliza para um ponto em frente à Toca da Raposa (Centro de Treinamento do Cruzeiro), na Pampulha. Ele deveria deixá-la com uma pessoa que a estaria esperando. “Eu falei: ‘Bruno, estou te falando como irmão, deixa essa ‘mina’ em paz. Cleiton (Gonçalves, morotista) já esteve preso, Jorjão (Jorge Luiz Lisboa Rosa) também”, contou.
“É comigo. Eu sou p…. Eu sou o Bruno”, teria reagido o goleiro. Já chorando no banco dos réus, Macarrão contou que entregou Eliza a uma pessoa em um Fiat Palio preto, mas não viu quem era o motorista. Em seguida, ele teria saído correndo com o carro – um Ecosport – e voltado ao sítio, onde conversou com Bruno. “Está tranquilo”, teria dito Bruno, tentando tranquilizá-lo.
Contradições – O promotor Henry Wagner foi o primeiro a dirigir perguntas, após as três horas e meia de depoimento do réu. Ao responder sobre quem teria sido prejudicado ou beneficiado com o sigilo que imperou no caso até hoje, Macarrão respondeu que ele próprio e “os meninos” foram prejudicados. E Bruno, o mandante, foi o beneficiado.
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Henry Wagner desmentiu alguns pontos do depoimento do réu, buscando mostrar contradições. Macarrão afirmou, por exemplo, que só conheceu Bola dentro do presídio. No processo, no entanto, há o registro de seis telefonemas dele para o ex-policial no dia da morte de Eliza Samudio.
Macarrão fez vários desabafos. “Eu não sou homossexual. Eu tinha uma amizade e respeito muito grande por ele. Ele não ia falar, mas ele ia fazer essa tatuagem também. Eu fui muito humilhado dentro do sistema carcerário”, disse, aos prantos. Segundo Macarrão, a versão de que haveria um “amor homossexual” entre ele e Bruno foi inventada pelo advogado Rui Pimenta, destituído por Bruno na manhã de terça-feira.
“Eu guardei isso tudo dois anos, quatro meses e 22 dias. Não aguentava mais porque não sou esse monstro que todo mundo colocou, o traficante, o cara que acabou com a vida do Bruno. Se tem alguém que acabou com a vida de alguém, foi ele que acabou com a minha vida. Vou ser um arquivo vivo, vou ser X9. Minha família sofrendo, filha crescendo, tenho muito medo de perder tudo: minha mãe, meu pai e minhas filhas. Eu tenho medo de morrer”, disse.
Incerteza – A confissão parcial de Macarrão complicou o goleiro Bruno, acima de tudo. Ele será julgado com outros dois acusados em 4 de março, e responde por sequestro e cárcere privado (pena de 1 a 3 anos), homicídio qualificado (12 a 30 anos) e ocultação de cadáver (1 a 3 anos). Tem ainda o agravante de ser apontado como mandante dos crimes, o que pode estender a pena a mais de 30 anos. Para a condição de mandante, o depoimento de Macarrão foi o mais pesado até agora.
Mas há muito a ser esclarecido sobre o relato desta madrugada. Macarrão, pelo processo, é o personagem mais presente em todos os momentos do calvário de Eliza Samudio. Foi ele quem teria comandado, segundo a denúncia oferecida pelo Ministério Público, o sequestro de Eliza, em junho de 2010 – mas na versão apresentada ele teria encontrado casualmente com a jovem em um restaurante.
O “irmão”, “melhor amigo”, “amor eterno” de Bruno passou a ser, na madrugada desta quinta-feira, o pior inimigo dos principais réus. O depoimento de Macarrão durou cerca de cinco horas e estendeu o terceiro dia de julgamento até as 4h17 de quinta-feira. Se havia a esperança de que, isolando Bruno e Bola em outro julgamento, os dois teriam mais chances de absolvição, essa perspectiva foi invertida no júri em curso. Às 13h30 desta quinta, o julgamento será retomado com as declarações de Fernanda Castro, ex-namorada de Bruno.
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