Mãe de Gugu, Maria do Céu fala pela primeira vez sobre morte do filho
'Eu choro muito, sempre escondido dos outros filhos. Tenho muitas saudades', diz
Em entrevista exclusiva a VEJA, Maria do Céu, de 90 anos, fala sobre a morte precoce de seu filho caçula, Gugu Liberato, aos 60 anos. Reportagem publicada na edição desta semana de VEJA revela como a trágica morte do apresentador causou uma guerra entre Rose, mãe de seus três filhos, com parentes do ídolo da televisão.
Como a senhora soube da morte de seu filho? A minha filha (Aparecida) chegou em casa quando eu estava na cozinha. Ela pediu que eu fosse até a sala, achei estranho. Quando me falou que o Toninho sofreu um acidente (choro)… Fomos direto ao aeroporto, eu embarquei com a roupa que estava vestindo. A confirmação da morte foi no hospital. Não gosto de pensar nesse exato momento. Mas parecia que algo iria acontecer.
Explique melhor. Eu passava metade da semana na casa dele; a outra parte, na minha. Como eu estava com gripe, fiquei mais de uma semana na casa do Gugu. No dia anterior à viagem, ele foi até o quarto e ficou horas e horas conversando comigo. Daí ele me contou que iria sair de casa às 6 da manhã para viajar, mesmo assim eu pedi para vir se despedir. Ele foi e me beijou muito. Na saída, já na porta, eu o chamei novamente, e ele voltou para me abraçar. Ele não tinha pressa, parecia estar adivinhando. Eu só não fui para lá porque estava gripada. Fiz algo a que não estava acostumada.
O quê? Pedi para ele me ligar quando chegasse a Orlando. Deu a hora em que ele já teria desembarcado, e nada. Liguei para a minha filha e disse que o Toninho não tinha ligado. “Será que o avião caiu?”, perguntei. Meu filho viajou e nunca mais voltou (choro).
Como foi velar o filho em uma cerimônia televisionada pela TV? Fui de cadeira de rodas por ter um problema de artrose no joelho esquerdo, não consigo ficar de pé por muito tempo. Aliás, para onde ele viajava, trazia algo para mim: pomada, vitamina, máquina de massagem. Até o velório, não sabíamos o tamanho do meu filho. Acho que nem ele. A comoção foi muito grande. O governador de São Paulo, João Doria, se ajoelhou aos meus pés. Ganhei santos, rosários. Esse amor recebido por muitos, conhecidos e desconhecidos, me ajuda.
Como têm sido seus dias? Eu choro muito, sempre escondido dos outros filhos. Tenho muitas saudades. À casa dele, fui apenas uma vez depois do acidente porque não tive mais coragem. A sensação de chegar e não o encontrar deixa um vazio ainda maior.
A senhora é portuguesa de origem católica. A religião tem ajudado neste momento? Fiquei revoltada no começo, mas sou católica e tenho de acreditar que Deus vai me dar forças. Rezo muito, o tempo todo. Quando começo a chorar, falo assim: “Meu filho, por favor, faça com que eu não chore mais”. Lá do céu, o Toninho está olhando por mim.
Em setembro, Gugu armou uma festa de aniversário pelos seus 90 anos. Fiz aniversário em Portugal com a família toda. O sonho dele era fazer essa festa para mim. Parece que foi se despedir dos parentes de lá. Aconteceu na região de Mirandela, no distrito de Bragança, cidade onde nasceu o meu marido. O Gugu estava muito feliz. Foram meus filhos, netos, agregados. Todos os parentes de Portugal apareceram. Ao todo, recebi 110 pessoas.
A senhora tem falado com os filhos do Gugu? Sim. Nós nos falamos por vídeo pelo WhatsApp. O João veio passar o Natal comigo, já as meninas (Marina e Sofia) ficaram nos Estados Unidos por serem menores. A gente era uma família muito feliz (chora). Nunca vou perdoar a Rose por ter mentido para mim, dizendo que iria fazer um retiro religioso enquanto largou meus netos sozinhos nos Estados Unidos para vir ao Brasil armar essa briga na Justiça. Quando o Gugu estava aqui, a família almoçava inteira na casa dele aos domingos. A comida era servida às 6 da tarde, 7 da noite (chora muito). Os pratos favoritos dele eram arroz com polvo, arroz com cogumelos, nhoque com frango e caldo verde.
O Silvio Santos foi uma ausência sentida no velório… As filhas e neto dele apareceram e me foi explicado que o Silvio estava abalado e também com pneumonia. Dois dias depois do enterro, ele me ligou para prestar carinho.
Com qual imagem a senhora fica de seu filho? O Toninho ajudou muita gente sem falar nada. Eu não passo um dia sem receber visitas. Conforta ouvir histórias de pessoas que sofreram por problemas parecidos. Mas a verdade é: enterrar um filho é a pior coisa do mundo. Nada fica como antes.
Publicado em VEJA de 5 de fevereiro de 2020, edição nº 2672