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Michelzinho: um youtuber no Jaburu

Filho do presidente Michel Temer posta brincadeiras, games e cotidiano do Palácio na internet

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 dez 2018, 19h32 - Publicado em 20 dez 2018, 18h47

“Fala, galera! Aqui quem fala é o Vood 02”. Com um bordão de quem dispensaria apresentações, o simpático menino de 9 anos aparece diante da câmera do celular para mais uma gravação para o seu canal no YouTube. Não há grande dedicação com o figurino – normalmente veste o uniforme da escola ou uma blusa de algodão – ou com a qualidade das imagens. A atenção total está na programação, diferente a cada aparição: o youtuber protagoniza desde rimas de rap até pegadinhas com cobras de mentira, passando, ainda, por um show de acrobacias. Vez ou outra também há participações especiais no canal: são coadjuvantes que, uniformizados com roupas oficiais, broches ou crachás, se rendem às invenções da criança, cuja real identidade é mantida em anonimato – seu nome, Michel, foi pronunciado apenas uma única vez e em tom de revelação.

Com 35 seguidores, até a tarde desta quinta-feira, 20, e o sonho de chegar aos 10.000, Vood 02 seria apenas mais uma entre as inúmeras crianças que brincam de youtuber, uma febre que, nos casos de sucesso, pode render um considerável retorno financeiro.

Michel Miguel Elias Temer Lulia Filho, o Michelzinho, como é conhecido, é o filho mais novo de Michel Temer (e o único que o presidente da República tem com a primeira-dama, Marcela). O caçula raramente aparece em público. Em seu perfil virtual, não coloca uma foto sua como identificação. Há apenas uma imagem abstrata. Procurada por VEJA, a assessoria do Planalto disse que a descoberta sobre o perfil anônimo de Michelzinho era apenas questão de tempo. “Ele posta mesmo, não tem o que fazer”, disse um assessor.

No vídeo, Michelzinho acaba por revelar um pouco de como é a vida de um filho do chefe mais importante de uma nação. O menino de cabelo liso e comprido, cujas mãos são tão agitadas quanto ele próprio, gosta de brincar com seus cachorros – o Jack Russell Picolly e o Golden Retriever Thor –, jogar videogame, inventar manobras com seu spinner, arriscar saltos aplicados no parkour e pregar peças nos seus amigos mais próximos – estes, no caso, os funcionários do Palácio do Jaburu. Tudo é registrado por ele ou pelos servidores presidenciais. Em uma das gravações, por exemplo, um militar do Exército é filmado fazendo acrobacias (chega a fazer uma ponte com o corpo, movimento aclamado por Michelzinho como “o exorcista”, e, na sequência, simulado por ele). Um outro militar já apareceu pulando na piscina com Michelzinho – de roupa e tudo. A boa relação entre o herdeiro de Temer e os funcionários palacianos, que carinhosamente o chamam de “Mi”, é notória.

Dentro do Jaburu, Michelzinho registra imagens que costumam ser mantidas em segredo. A Presidência da República, em seu site, mostra principalmente a área externa da residência projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer. O caçula de Temer já gravou suas aventuras pela lavanderia presidencial (em que as funcionárias aparecem passando roupas), em uma sala exclusiva para a segurança, dentro da imensa despensa de alimentos (que traz enlatados, biscoitos e leites aos montes, lembrando uma lotada prateleira de supermercado), da cozinha, com as panelas a todo o vapor sendo conduzidas por uma tropa de cozinheiros uniformizados com chapéus e aventais, e em seu quarto, um simples aposento com armário, cama, ar-condicionado, televisão e computador. Sobre a cama, animais de pelúcia e, na cabeceira, alguns adesivos colados.

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A intensa vida dentro do palácio é justificada pelo fato de que, por ser filho do presidente da República, Michelzinho quase não sai de casa – se sai, é acompanhado por seguranças. A condição é ironizada por um dos funcionários do Jaburu enquanto trava com o youtuber um duelo de rap. Diz ele a Michelzinho – no caso, o desconhecido Vood02: “Se liga nessa rima que eu vou mandar, ela é perigosa de esparrar. Você para ir ali na esquina precisa da babá”. O garoto responde: “É sério, realmente não dá. Ela fica me seguindo”, desabafa. E, na sequência, também arrisca uma rima. “Na rua de São Paulo tem muito crime, ladrão, paz e riqueza. Na rua de São Paulo tem muita treta, vixi, muita treta, vixi, muita treta…”.

Michelzinho se inscreveu no YouTube em agosto de 2016 e, desde então, seus 27 vídeos publicados em um perfil público somam mais de 1.300 visualizações – uma média de menos de cinquenta visualizações por vídeo. Seus principais seguidores são a avó, Norma Tedeschi (outra figura ligada a Temer bastante ativa nas redes), e a tia Fernanda, irmã de Marcela. Ele tenta angariar novos fãs ao final de cada gravação: “Se gostou, compartilha, deixa um like e se inscreva no canal para ajudar”, repete. Desde o ano passado, Vood 02 tornou-se usuário do Instagram, rede na qual mantém uma conta privada na qual também registra cenas do seu dia a dia e, ultimamente, tem se dedicado mais do que ao YouTube. Mas conta que avalia voltar à plataforma de vídeos com um novo formato. “Talvez, às vezes, algumas lives”.

Alguns dos vídeos:

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