Ministério Público denuncia padre abusador serial de coroinhas
Tema de reportagem de capa de VEJA, Pedro Leandro Ricardo teria efetuado ataques na igreja e na casa paroquial
Ainda que não na velocidade desejada, esta semana foi de comemoração para as pessoas vítimas de crime sexual por parte do padre Pedro Leandro Ricardo, em Araras. O promotor Luiz Alberto Segalla Bevilacqua denunciou o religioso por atentado violento ao pudor mediante violência grave ou ameaça, com o agravante de os atos terem sido contínuos. Ao todo, ele foi denunciado por atacar quatro menores – todos eles deram entrevista em uma reportagem de capa de VEJA publicada em julho deste ano.
Escreveu o promotor no despacho: “O padre Pedro Leandro Ricardo, responsável pela paróquia São Francisco de Assis, exercia autoridade moral e inegável influência sobre os membros de sua comunidade religiosa. Nesta qualidade, atraía crianças e adolescentes para a função de coroinha, com o propósito de satisfazer sua lascívia. Assim é que, prevalescendo-se de sua ascendência sobre as vítimas (temor reverencial), o denunciado, em diversas oportunidades, e com sucessão de vítimas, mediante violência e grave ameaça, praticou crimes (atos libidinosos) contra a dignidade sexual de quatro menores”.
Os ataques ocorriam dentro da igreja, na casa paroquial ou em incursões religiosas. Alguns deles estão descritos em detalhes no despacho, como o caso de Ednan Aparecido Vieira. Então com 17 anos, o coroinha foi convidado para dormir na casa paroquial. A desculpa: estar a postos no dia seguinte para ajudá-lo na missa do domingo de manhã. Embora soubesse que não haveria mais ninguém na residência, o menino jamais desconfiaria que estava prestes a cair em uma arapuca. Chegando ao local, o clima começou a ficar estranho com as perguntas do anfitrião, que só queria saber da vida íntima do garoto. Tinha namorada? Qual era seu tipo físico preferido de menina? O padre ofereceu vinho ao menor e forçou sexo oral. O menino conseguiu fugir.
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O cerco ao padre Leandro iniciou-se há tempos, com a comunidade de Araras exigindo respeito e fazendo denúncias de ataques sequenciais. Em maio desde ano, o Vaticano recebeu um calhamaço com as denúncias e Leandro acabou afastado das funções de padre e de reitor da Basílica de Santo Antônio de Pádua e está impedido de celebrar missas até a conclusão da investigação. Mas continua recebendo cerca de 9 000 reais, entre salário e benefícios. O bispo Vilson Dias de Oliveira, da Diocese de Limeira e ex-chefe de Leandro, renunciou ao cargo quando o escândalo veio à tona. “Ele cansou de receber denúncias a respeito do padre Leandro, mas nunca fez nada”, diz a advogada Talitha Camargo da Fonseca, responsável pela defesa das vítimas.
Procurada por VEJA, a defesa do padre Pedro Leandro Ricardo informou que irá estudar o despacho do promotor para, então, se manifestar.