Em palestra neste sábado, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato na primeira instância, defendeu que corrupção eleitoral é ainda mais grave que enriquecimento ilícito. Moro participou da terceira edição do evento Brazil Conference 2017, promovido pela Universidade Harvard e pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts na cidade de Cambridge (MIT), nos Estados Unidos. Horas antes, a ex-presidente Dilma Rousseff também discursou – e se recusou a responder perguntas sobre o juiz federal.
O juiz da Lava Jato começou a palestra dizendo que relutou em aceitar o convite do evento, pois “o trabalho está muito puxado.” E seguiu com considerações sobre as origens da corrupção no país: “Não dá para dizer que todo mundo é corrupto no Brasil, mas o caso impacta em muito o País. Por mais que o fenômeno seja amplo, reiterado e pareça como condição natural, doença dos trópicos, é evidente que ele é produto de uma fraqueza cultural e institucional”.
Para Moro, o combate à corrupção tem avançado devido, sobretudo, à disposição do Judiciário de não varrer mais nada para baixo do tapete. Mas ele enfatizou que os demais poderes precisam se mexer: “Falta uma atuação mais incisiva do Congresso e do Executivo. E essas propostas de anistia não ajudam.”
O juiz avaliou que a série de escândalos não envergonha o país, desde que os casos sejam trazidos à Justiça. “A exposição da corrupção publica é uma honra para a nação. A vergonha existe na tolerância, não na correção”, comentou, fazendo referência a uma declaração do presidente americano Theodore Roosevelt.
Questionado sobre os projetos para punir abuso de poder, Moro ponderou: “Nenhuma autoridade é a favor de abuso de autoridade, mas uma coisa é ser processado por isso, e outra é ser processado por interpretar a lei de outro jeito. Juiz deve ser livre para interpretação, sem sofrer retaliação”.
Durante a palestra de quase duas horas, o juiz também tratou de corrupção e caixa 2 em campanha eleitoral. “A mim causa estranheza a distinção entre a corrupção eleitoral e enriquecimento ilícito. A corrupção eleitoral é até mais grave, porque, no caso do enriquecimento ilícito, você coloca o dinheiro na Suíça e não prejudica mais ninguém. Agora, usar dinheiro de corrupção para ganhar uma eleição vai atrapalhar mais gente”, disse. “Caixa 2 é crime contra a democracia.”
O juiz finalizou lembrando que o país já venceu diversas crises no passado: “O Brasil conseguiu superar graves desequilíbrios. Não podemos nos conformar com nossos problemas e nossos vícios”.
A ex-presidente Dilma Rousseff, a fundadora do partido REDE e ex-candidata à presidência da República, Marina Silva, e o ex- presidente do Banco Central, Armínio Fraga, também participaram da conferência.