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Morte de Marielle foi idealizada pelos Brazão e planejada por delegado

Relatório da PF indica que o então chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, teve participação decisiva na arquitetura do crime

Por Lucas Mathias Atualizado em 8 Maio 2024, 12h09 - Publicado em 24 mar 2024, 17h44

O relatório da Polícia Federal sobre a morte de Marielle Franco indica que o assassinato da ex-vereadora do Rio foi “meticulosamente planejado” pelo delegado Rivaldo Barbosa,  de modo a garantir a impunidade dos executores e dos mandantes, os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão. O agente havia assumido naquele ano, em 2018, o Departamento de Homicídios da Polícia Civil, antes de tomar posse, um dia antes do crime, como chefe da corporação. Ele foi preso preventivamente nesta manhã e levado a Brasília, onde permanecerá em uma penitenciária federal, assim como os Brazão. A mulher de Barbosa, Erika Andrade, e outros agentes do estado também foram alvo de buscas. Segundo a investigação, o policial civil teria dado instruções prévias para que o crime não chegasse às mãos da PF e, assim, ele pudesse manter a resolução sob seu controle, garantindo a impunidade dos envolvidos.

O relatório destaca que, na manhã seguinte ao crime, Barbosa teria nomeado para a chefia da Delegacia de Homicídios o delegado Giniton Lages, outro alvo de buscas da PF neste domingo, que ficaria responsável por se debruçar sobre a investigação do assassinato. Tal movimento, segundo o inquérito, foi pensado para facilitar a obstrução de provas do crime.

De acordo com a Polícia Federal, Barbosa e Lages já tinham “prévia relação de confiança”, o que permitiu que provas imediatas — que teriam agilizado a elucidação do caso — fossem propositalmente obstruídas, de modo a proteger os mandantes do crime.

“Impende-se destacar que ambos já possuíam uma prévia relação de confiança. Ou seja, os trabalhos de sabotagem se iniciaram no momento mais sensível da apuração do crime, as horas de ouro, o que ensejou a perda de elementos de convicção importantes para a sua resolução a contento como, por exemplo, a captação das imagens dos circuitos internos de televisão dos imóveis adjacentes ao local do crime”, diz trecho do relatório.

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Ainda de acordo com o documento, o alinhamento entre os mandantes do crime e o então chefe da Polícia Civil foi fator que dificultou a colaboração do executor de Marielle, Ronnie Lessa. Tal “simbiose da equipe à frente da Delegacia de Homicídios da Capital à época com o delito” teria feito com que o executor resistisse a dar detalhes do caso, por acreditar que as circunstâncias do crime não viriam à tona. O cenário mudou apenas depois que Lessa soube da delação de Élcio de Queiroz, o motorista do carro usado para o crime.

Executor de Marielle, Ronnie Lessa contou à PF em sua delação sobre a orientação dada pelo delegado Rivaldo Barbosa
Executor de Marielle, Ronnie Lessa contou à PF em sua delação sobre a orientação dada pelo delegado Rivaldo Barbosa (Reprodução/.)

Diz ainda o inquérito que, ao tratar dos detalhes do crime com os mandantes, Lessa recebeu a orientação de que o assassinato não fosse feito nas imediações da Câmara dos Vereadores, onde Marielle atuava. “Conforme narrado por Lessa e detalhado mais adiante, Domingos ressaltou que tal exigência partiu do então Diretor da Divisão de Homicídios da PCERJ, o Delegado Rivaldo Barbosa, fato que, inicialmente, o tranquilizou ante a notória pactuação da garantia de impunidade da ação que lhe foi encomendada”, diz o texto.

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A exigência feita por Barbosa, apesar de dificultar a execução do crime por Lessa, teve um motivo: dessa maneira, afastaria a suspeita de que se tratava de um crime político e, assim, impediria que a Polícia Federal passasse a investigar o caso. Desse modo, o chefe da Polícia Civil conseguiria tratar da resolução da maneira que fosse mais oportuna.

“Nesse ponto, além de se inferir que a exigência estabelecida por Rivaldo tinha como base evitar a atuação de órgãos de persecução federais e determinar uma linha de investigação pré-concebida e natimorta, destaca-se que Rivaldo, no exercício do cargo de Diretor da Divisão de Homicídios da PCERJ, já tinha um controle absoluto sobre todas as vicissitudes da futura investigação, o que se robusteceu quando ele fora alçado a Chefe de Polícia”, completa o texto.

Conforme narra o inquérito, “a investigação dos homicídios de Marielle Franco e de Anderson Gomes (então motorista da assessora) foi, antes mesmo da prática do delito, talhada para ser natimorta, mediante ajuste prévio dos autores intelectuais com o então responsável pela apuração de todos os homicídios ocorridos no Rio de Janeiro”.

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