Nome forte do governo Bolsonaro, Braga Netto articula novos voos políticos
O general recusa o pijama, atua no PL e passa a ser cogitado para a prefeitura do Rio
Considerado um dos ministros palacianos mais próximos do então presidente Jair Bolsonaro, o general Walter Braga Netto sempre teve muito poder. Comandou dois ministérios estratégicos, o da Defesa — em um momento em que os militares ganhavam protagonismo inédito no país desde o fim da ditadura — e o da Casa Civil, quando, em determinado momento, chegou a ser considerado uma espécie de “primeiro-ministro” da administração, especialmente na crise da pandemia. A trajetória política foi coroada com a indicação para ser o vice de Bolsonaro na campanha presidencial. Na carreira militar, Braga Netto também desempenhou funções relevantes, como as chefias do Comando Militar do Leste e do Estado-Maior do Exército. Oficialmente, passou para a reserva em fevereiro de 2020, quando já era aliado a Bolsonaro. Mas, ao contrário de outros generais do alto escalão do antigo governo, como Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos, que saíram de circulação, ele segue politicamente na ativa, atuando hoje como um dos articuladores políticos do PL para a eleição de 2024.
O que não falta é ambição ao general. À frente da Secretaria Nacional de Relações Institucionais do PL desde março deste ano, ele foi incumbido pelo cacique Valdemar Costa Neto de “reestruturar e fortalecer” a sigla, que tem hoje a maior bancada na Câmara, preparando o terreno para as disputas eleitorais do ano que vem. “Queremos eleger mais de 1 000 prefeitos em todo o Brasil, além de aumentar expressivamente o número de vereadores”, diz Braga Netto. O partido controla hoje apenas 328 prefeituras. As agendas incluem reuniões com políticos aliados, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), encontros com parlamentares e eventos com empresários e lideranças políticas locais em estados como Rio de Janeiro e Minas Gerais — onde nasceu. Ele, no entanto, declara que é apenas um “gestor” do partido. “A articulação política é toda do presidente Valdemar e do presidente Bolsonaro. Vim para organizar e planejar. Queremos ser uma referência da agenda conservadora e liberal”, afirma Braga Netto.
A grande dúvida é saber se as peregrinações do general também visam a uma candidatura em 2024. Embora a opção que faça brilhar os olhos de Braga Netto seja a disputa por uma vaga ao Senado por Minas, ganhou força nos últimos dias a circulação de seu nome como candidato a prefeito do Rio de Janeiro. Ele passou a ser razoavelmente conhecido pelo público ao ser nomeado interventor federal na segurança pública do Rio pelo então presidente Michel Temer (MDB), no início de 2018. A atuação na operação — cujo êxito ainda é questionado —, aliada aos anos no governo Bolsonaro, forneceria o alicerce a uma possível candidatura no estado. Com o veto do ex-presidente à candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o nome do general foi posto à mesa. Membros do partido afirmam, inclusive, que pesquisas internas apontam para um favoritismo de Braga Netto em relação a outros postulantes. A vaga é cobiçada pelo senador Carlos Portinho (PL) e pelos deputados federais Eduardo Pazuello (PL) e Otoni de Paula (MDB). “O futuro a Deus pertence”, desconversa o general.
Ao mesmo tempo que parece desfrutar de prestígio entre os caciques do PL, a figura de Braga Netto tem despertado algumas antipatias na sigla. Uma ala de filiados bastante próxima a Bolsonaro queixa-se de que o general, além de não ter acrescentado “em nada” na última campanha eleitoral, é um personagem sem carisma, alheio ao trato necessário à vida política e incompetente em fazer deslanchar iniciativas do partido. Algo que exemplificaria essas características é o fato de o general exigir que sejam confiscados celulares dos convidados antes de reuniões, de promover apenas encontros fechados e restritos e de não ter organizado com a devida importância a “grande estreia” prevista para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como presidente do PL Mulher. “Ele representa o que tem de pior na ala dos milicos. O fracasso da comunicação do PL, visto que não há comunicação e estratégia, é culpa dele”, diz um aliado de Bolsonaro.
Mas há outros problemas no horizonte do general além do burburinho dos descontentes em seu partido. Ele é tido como um dos principais alvos do governo na CPMI que vai apurar os atos de 8 de janeiro. Por enquanto, a estratégia estudada por parlamentares da base aliada é a de jogar luz sobre a responsabilidade de militares ligados a Bolsonaro — Braga Netto chegou a dizer aos manifestantes acampados em Brasília que mantivessem a esperança de mudança no resultado eleitoral. “Não percam a fé. É só o que eu posso falar para vocês agora”, disse, em conversa que foi gravada em vídeo e viralizou na época. É uma bomba considerável no caminho do general que se movimenta, reúne tropas e tenta conquistar novos territórios políticos.
Publicado em VEJA de 31 de maio de 2023, edição nº 2843