O dia seguinte no Morumbi, bairro nobre da zona sul de São Paulo, ao tiroteio que deixou dez suspeitos de assalto mortos pela polícia, é de silêncio dos moradores e pessoas que trabalham no local em contraste com a “estridência” das marcas do confronto: sangue pelas ruas, pedaços dos veículos usados pelo grupo – que se envolveram em acidentes na fuga – espalhados pelo asfalto e marcas de tiros nas paredes e portões das casas de alto padrão.
“Eu nunca vi nada parecido no bairro. Moro aqui há 15 anos e nunca tive nenhum problema, nunca me aconteceu nada”, disse um morador da rua Pirapó, onde ocorreu parte do confronto, e que pediu anonimato. “Eu e a maioria dos moradores não imaginávamos que fosse uma tentativa de assalto. Pensávamos que fossem fogos de artifício, alguma comemoração, porque foram tantos, tantos tiros, tanto barulho, que todo mundo pensou nisso”, conta. Para ele, o bairro sempre foi tranquilo e eventos como o de domingo são “fatos isolados”.
Outro morador concorda que a violência na área não é constante e que os criminosos somem por um tempo e depois reaparecem. “Neste último mês, aconteceram muitos assaltos, sempre a residências, todos da mesma quadrilha, inclusive. Há dois finais de semana, a casa em frente à minha foi assaltada, mas a polícia já estava investigando e dessa vez estavam esperando,” relata.
Segundo um morador, que também não quis se identificar, o tiroteio durou cerca de 20 minutos. Ademar Ferreira de Brito, que faz a vigilância particular de cinco casas na rua Pirapó e está há nove anos na mesma via e há mais de 30 anos na mesma região, diz que a violência aumentou na área. “Quando eu vim pra cá, um rapaz fazia a segurança do Morumbi sozinho. Ele cuidava praticamente de tudo, daqui até o palácio do governo [Palácio dos Bandeirantes]. Era uma época muito tranquila”, conta.
Veja o local do confronto:
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Governador
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) defendeu nesta segunda-feira a ação policial que terminou com dez suspeitos mortos no Morumbi, bairro nobre da zona sul de São Paulo, e disse que, “graças a Deus”, não aconteceu nada com as vítimas de assalto e os policiais.
“Quem está de fuzil não está querendo conversar”, disse o governador sobre a operação policial conduzida pelo Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) na noite de domingo. Segundo a polícia, o grupo portava quatro fuzis, duas pistolas, um revólver, coletes à prova de balas e munição. Quatro policiais ficaram feridos por estilhaços.
A frase de Alckmin lembra outra dita por ele e que se tornou célebre em setembro de 2012, logo após uma ação da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) em Várzea Paulista, na Grande São Paulo, ter deixado nove mortos, todos suspeitos de ligação com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). “Quem não reagiu está vivo”, disse o governador à época.
Segundo ele, a operação no Morumbi foi resultado de um trabalho que o Deic vinha fazendo há muitos meses envolvendo o grupo, que, fortemente armado, já teria praticado outros assaltos a residências, além de roubo a banco e explosões de caixas eletrônicos. “Esse é um trabalho que tem sido feito”, disse.
Investigação
As armas dos policiais envolvidos na operação foram apreendidas e enviadas para o Instituto de Criminalística. A análise vai servir para esclarecer as circunstâncias das mortes, em inquérito que foi aberto pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). A versão dos policiais do Deic é que os suspeitos, surpreendidos pela polícia, reagiram a tiros e foram mortos durante confronto. O grupo estava em dois veículos (um Fiat Toro e um Hyundai Santa Fé). Os corpos dos dez suspeitos estão passando por perícia no Instituto Médico Legal (IML).