O advogado Nythalmar Dias Ferreira Filho, delator do juiz federal Marcelo Bretas, responsável pelo braço fluminense da Lava-Jato no Rio, ficará impedido de exercer sua profissão por 90 dias, por ordem do Tribunal de Ética da OAB. A decisão decorrente de uma representação do ex-presidente do Departamento de Transportes Rodoviários (Detro/RJ), Rogério Onofre, ocorre em carater de medida cautelar e, portanto, é provisória.
Conforme revelado por VEJA, Onofre alega ter sido extorquido e coagido pelo advogado, que, segundo o seu depoimento, agiria em nome de Bretas. Em um documento lavrado em cartório, o ex-diretor do Detro diz que recebeu uma proposta de oito milhões de reais em troca de sua liberdade. O empresário foi condenado por Bretas por corrupção passiva, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha e acredita que foi punido por não ter aceitado o acordo. O juiz e o advogado negaram as acusações.
As suspeitas contra Nythalmar ocorrem desde março de 2019, quando foi denunciado à OAB por assediar clientes de outros advogados que respondiam processos no âmbito da operação Lava Jato. Chamou a atenção de seus colegas o fato de ele conseguir fechar acordos de delação premiada bem mais vantajosos.
“A medida veio tardia, mas em boa hora, e mesmo sendo precária, não tenho dúvida que no mérito desta e outras representações que responde na OAB, será excluído dos quadros”, diz o advogado criminalista Carlo Luchione, autor da primeira representação contra Nythalmar na OAB/RJ.
Em sua defesa, Nythalmar ironizou a punição. Ele afirma que nunca foi notificado da existência do processo, e que a ação é uma “perseguição de um grupo de advogados ralé”. Ele explica que, devido a um acidente sofrido, está de atestado médico há mais de 120 dias e, por isso, não tem exercido a profissão de qualquer maneira.
Em outubro de 2020, o escritório do advogado foi alvo de uma operação da Polícia Federal e ele acabou fechando um acordo de colaboração com a Procuradoria-Geral da República. Nela, apresentou gravações de conversas com o Bretas e com integrantes do Ministério Público Federal em que são orquestrados movimentos em processos da Lava-Jato. O caso, também revelado por VEJA, ficou conhecido como Vaza Jato II.